Batalha de Zela (47 a.C.) – Wikipédia, a enciclopédia livre

 Nota: Não confundir com a Batalha de Zela (67 a.C.), travada no contexto da Terceira Guerra Mitridática.
Batalha de Zela
Segunda Guerra Civil da República Romana

Campanha de César até Zela
Data 2 de agosto de 47 a.C.
Local Zela, Reino da Capadócia
Coordenadas 40° 18' N 35° 53' E
Desfecho Vitória decisiva dos cesarianos
Beligerantes
República Romana Cesarianos   Reino do Bósforo
Comandantes
República Romana Júlio César   Fárnaces II do Bósforo
Forças
20 000 homens[1][2]:
* Legio XXII Deiotariana
* 2 coortes (VI Ferrata)
* Auxiliares e vexillationes (Legio XXXVI)
20 000 homens[1][2]
Zela está localizado em: Turquia
Zela
Localização de Zela no que é hoje a Turquia

A Batalha de Zela foi uma batalha travada em 47 a.C. entre as forças da República Romana, lideradas por Júlio César, e as do Reino do Bósforo, lideradas pelo rei Fárnaces II, filho de Mitrídates VI do Ponto, o antigo inimigo de Roma nas Guerras Mitridáticas.

Contexto[editar | editar código-fonte]

Depois de sua vitória na Batalha do Nilo, César viajou com uma de suas legiões veteranas, a VI Ferrata[3], bastante experiente por anos de contínuas batalhas[4], na época com apenas 1 000 homens[3][5], para enfrentar Fárnaces II, do Reino do Bósforo, que aproveitou a guerra civil romana para invadir o Reino da Capadócia, a Armênia Parva e a província romana do Ponto[6], um território que no passado havia sido de seu pai, o rei Mitrídates VI do Ponto, derrotado décadas antes por Pompeu e Lúculo na Terceira Guerra Mitridática[7].

Ao saber que o governador romano da Ásia, Cneu Domício Calvino, havia sido forçado a enviar duas de suas três legiões para ajudar César no Egito[8] no final de 48 a.C., Fárnaces invadiu o território romano e derrotou Calvino na Batalha de Nicópolis[9][10], ocupando posteriormente todo o território, uma ocupação marcada por saques e abusos contra a população e, especialmente, contra os romanos[1][11].

César partiu do Egito em 7 de junho de 47 a.C., zarpando de Alexandria rumo a Antioquia e dali para a Anatólia[12]. No caminho, César soube que a situação era crítica em Roma, administrada pelo seu legado Marco Antônio, e, por isso, tinha pressa para terminar a campanha no oriente[13]. Seu exército foi reforçado por tropas alistadas entre os reinos aliados na região[13], como foi o caso da Legio XXII Deiotariana, formada por recrutas do Reino da Galácia (Deiótaro foi obrigado a ajudar por ter se aliado antes aos pompeianos)[1][14]. César conseguiu resolver facilmente os conflitos latentes na Síria, Cilícia e Ásia, intocadas pela invasão de Fárnaces[13], e deixou a região sob o comando de seu parente Sexto Júlio César[15]. Chegando ao Ponto, César unificou sua legião (a VI Ferrata) com os auxiliares locais e os sobreviventes da Batalha de Nicópolis[3]. Fárnaces ainda tentou negociar uma saída diplomática, mas foi rechaçado por César[16].

Fárnace então ocupou e fortificou as colinas perto de Zela[17], um local onde seu pai havia vencido uma batalha em 67 a.C., esperando repetir o mesmo sucesso. César acampou a cerca de oito quilômetros de distância e, na noite de 31 de julho, ordenou que suas forças se aproximassem secretamente das posições inimigas[1][18].

Batalha de Zela[editar | editar código-fonte]

Depois de dias de mútua vigilância, Fárnaces, alardeando seu desprezo pelas tropas romanas, dispôs em formação seu exército enquanto César e sua primeira linha estavam de frente para suas trincheiras e o resto estava trabalhando nas fortificações do acampamento, deixando sua forte posição defensiva nas colinas que circundavam o vale[10]. César ordenou que os trabalhos fossem abandonados e dispôs todo seu exército em formação de batalha[19]. A batalha começou e a VI Ferrata conseguiu defender sua posição na ala direita romana; pouco depois, o flanco esquerdo e o centro do exército de Fárnaces foram postos em fuga com pesadas baixas; o flanco direito foi cercado. Todas as forças de Fárnaces foram mortas ou capturadas e somente suas coortes mais leais permaneciam na reserva em seu acampamento fortificado. Contudo, elas pouco puderam fazer diante do poderoso assalto romano que se seguiu[20] e uns poucos sobreviventes fugiram em desordem colina abaixo[21].

Eventos posteriores[editar | editar código-fonte]

A parte de seu exército estava morto ou capturada, mas ainda assim Fárnaces conseguiu fugir[20] com mil cavaleiros para Sinope. Fárnaces recrutou mercenários citas e sármatas em Teodósia e Panticapeu, mas foi derrotado e morto por Asandro depois de quinze anos no trono[1][22]. Calvino foi incumbido de perseguir os sobreviventes com a cavalaria ligeira[23][24] enquanto César repartia o butim amealhado entre seus soldados. Depois de dispensar os auxiliares de Deiótaro, César enviou a VI Ferrata de volta para a Itália e deixou duas legiões no Ponto sob o comando de Célio Vinciano[23]. Depois disto, marchou pela Galácia e pela Bitínia reorganizando o governo destas regiões. Mitrídates de Pérgamo, seu fiel aliado na campanha do Egito, recebeu o trono do Reino do Bósforo, que era de Fárnaces II. Terminada a reforma, César finalmente voltou para Roma[25][26].

A campanha contra Fárnaces durou apenas cinco dias. Foi tão rápida e contundente que Plutarco conta que César teria dito "Veni, vidi, vici", uma de suas frases mais famosas[27].

Porém, a guerra civil ainda não havia acabado, pois os pompeianos sobreviventes da Batalha de Farsalos formaram um novo exército na África Velha.

Referências

  1. a b c d e f Overy, Richard (2014). A History of War in 100 Battles. Oxford University Press, pp. 90. ISBN 9780199390717.
  2. a b Brice, Lee L. (2014). Warfare in the Roman Republic: From the Etruscan Wars to the Battle of Actium. Santa Bárbara: ABC-CLIO, pp. 38. ISBN 9781610692991.
  3. a b c Aulo Hírcio, De Bello Alexandrino, cap. 69.
  4. Sheppard, 2009: 84-85
  5. Sheppard, 2009: 30
  6. Aulo Hírcio, De Bello Alexandrino, caps. 34, 41.
  7. Aulo Hírcio, De Bello Alexandrino, cap. 35.
  8. Sheppard, 2009: 23, 84-85, 87
  9. Sheppard, 2009: 87
  10. a b Aulo Hírcio, De Bello Alexandrino, cap. 74.
  11. Aulo Hírcio, De Bello Alexandrino, cap. 41.
  12. Sheppard, 2009: 20, 86-87
  13. a b c Aulo Hírcio, De Bello Alexandrino, cap. 65.
  14. Aulo Hírcio, De bBello Alexandrino, cap. 67.
  15. Aulo Hírcio, De Bello Alexandrino, cap. 66.
  16. Aulo Hírcio, De Bello Alexandrino, cap. 70.
  17. Aulo Hírcio, De Bello Alexandrino, cap. 72.
  18. Aulo Hírcio, De bBello Alexandrino, cap. 73.
  19. Aulo Hírcio, De Bello Alexandrino, cap. 75.
  20. a b Aulo Hírcio, De Bello Alexandrino, cap. 76.
  21. Goldsworthy, 2007: 446-447
  22. Apiano, De Bello Mithridatico, cap. 120.
  23. a b Aulo Hírcio, De Bello Alexandrino, cap. 77.
  24. Sheppard, 2009: 23
  25. Aulo Hírcio, De Bello Alexandrino, cap. 78.
  26. Tucker, Spencer C. (2009). A Global Chronology of Conflict: From the Ancient World to the Modern Middle East. Santa Bárbara: ABC-CLIO, pp. 127. ISBN 9781851096725.
  27. Plutarco, Vidas Paralelas, Vida de Júlio César 50.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Aulo Hírcio (1982). Muniáin, José Goya; Balbuena, Manuel, eds. Julio César: La guerra civil. De bello Alexandrino (em espanhol). Barcelona: Ediciones Orbis 
  • Goldsworthy, Adrian (2007). Lorenzo, Teresa Martínez, ed. César: la biografía definitiva (em espanhol). Madrid: Editorial La Esfera de los Libros 
  • Sheppard, Si (2009) [2006]. Ros, Eloy Carbó, ed. César contra Pompeyo. Farsalia (em espanhol). Barcelona: Osprey Publishing 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]