Batalha de Mutá – Wikipédia, a enciclopédia livre

Batalha de Mutá

Mausoléu de Abedalá, Jafar e Zaíde em Mutá
Data Setembro de 629
Local Mutá, na Jordânia
Desfecho Vitória bizantina
Beligerantes
Árabes muçulmanos Império Bizantino
Comandantes
Zaíde ibne Harita

Jafar ibne Abu Talibe

Abedalá ibne Rauá

Calide ibne Ualide

Teodoro Tritírio
Forças
ca. 3 000[1] 100 000 (Uaquidi[2]

200 000 (Ibne Ixaque)[a][3]

10 000 ou menos[4]

A batalha de Mutá (em árabe: مَعْرَكَة مُؤْتَة ou غَزْوَة مُؤْتَة, Maʿrakah Muʿtah ou Ghazwah Muʿtah) foi travada em setembro de 629, [5] perto de Mutá, na atual Jordânia, entre as forças do profeta islâmico Maomé (571–632) e tropas do Império Bizantino e seus vassalos árabes cristãos do Reino Gassânida.

Em fontes históricas islâmicas, é geralmente descrita como a tentativa dos muçulmanos de retaliar um chefe gassânida por tirar a vida de um emissário. De acordo com fontes bizantinas, os muçulmanos planejavam lançar seu ataque em um dia de festa. O vigário bizantino local soube de seus planos e reuniu as guarnições das fortalezas. Vendo o grande número de forças inimigas, os muçulmanos retiraram-se para o sul, onde os combates começaram na aldeia de Mutá e foram derrotados.[6] De acordo com fontes islâmicas, após três dos líderes serem mortos, o comando foi dado a Calide ibne Ualide, que salvou os sobreviventes.[7]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Os bizantinos estavam em processo de reocupação da região após o acordo de paz entre o imperador Heráclio (r. 610–641) e o general sassânida Sarbaro em julho de 629.[8] O sacelário Teodoro Tritírio[9] foi colocado no comando das tropas, enquanto que na área de Balca as tribos árabes foram empregadas.[8] No interim, Maomé enviou seu emissário ao governante de Bostra. Em sua ida, foi executado na vila de Mutá por ordem do oficial gassânida Xurabil ibne Anre. Então, Maomé enviou 3 000 tropas em setembro para uma expedição rápida para atacar e punir as tribos pelo assassinato de seu emissário.[10][11]

Batalha e rescaldo[editar | editar código-fonte]

Os muçulmanos enfrentaram os bizantinos em seu acampamento em Balca, perto da vila de Muxarife, e então se retiraram para Mutá. Durante a batalha, todos os três líderes muçulmanos (Zaíde, Jafar e Abedalá) caíram um após o outro. Os soldados queriam então nomear Tabite ibne Alarcã comandante, mas este passou a função a Calide ibne Ualide, que conseguiu salvar o restante das tropas.[12]

É relatado que quando a força muçulmana chegou a Medina, foram repreendidos por se retirarem e acusados de fugir. Salama ibne Hixame, irmão de Anre ibne Hixame, teria orado em casa em vez de ir à mesquita para evitar ter que se explicar. Maomé então ordenou que parassem, dizendo que voltariam para lutar contra os bizantinos novamente.[13] Aos mortos, que são vistos como mártires, um mausoléu foi erigido em Mutá.[14]

Historiografia[editar | editar código-fonte]

De acordo com Uaquidi e ibne Ixaque, os muçulmanos foram informados de que 100 000[2] ou 200 000[3] tropas inimigas estavam acampadas em Balca.[2] Consequentemente, os historiadores modernos refutam esta afirmação ao assumirem que se trata de um exagero.[7][15][16] Segundo Walter Emil Kaegi, professor de história bizantina na Universidade de Chicago, o tamanho de todo o exército bizantino durante o século VII pode ter totalizado 100 000, possivelmente até metade deste número.[17] Enquanto isso, as forças bizantinas em Mutá provavelmente não somavam mais de 10 000.[4]

Os relatos muçulmanos da batalha diferem quanto ao resultado. Nas primeiras fontes muçulmanas, a batalha é registrada como uma derrota humilhante. (hazīma). Mais tarde, os historiadores retrabalharam as primeiras fontes de material para refletir a visão islâmica do plano de Deus. Fontes subsequentes apresentam a batalha como uma vitória muçulmana, visto que a maioria dos soldados muçulmanos voltou com segurança.[18]

Referências

  1. Powers 2009, p. 86.
  2. a b c Gil 1997, p. 23.
  3. a b ibne Ixaque 2004, p. 532.
  4. a b Kaegi 1992, p. 79.
  5. Kaegi 1992, p. 72.
  6. Kaegi 1992, p. 67.
  7. a b Buhl 1993, p. 756-757.
  8. a b Kaegi 1992, p. 72-73.
  9. Kaegi 1992, p. 35.
  10. El Hareir 2011, p. 142.
  11. Canivet 1992, p. 113.
  12. Buhl 1993, p. 756.
  13. Powers 2009, p. 81.
  14. Buhl 1993, p. 757.
  15. Haldon 2010, p. 188.
  16. Peters 1994, p. 231.
  17. Kaegi 2010, p. 99.
  18. Powers 2009, p. 80.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Buhl, F. (1993). «Muʾta». In: Bosworth, C. E.; van Donzel, E.; Heinrichs, W. P. & Pellat, Ch. The Encyclopaedia of Islam, New Edition, Volume VII: Mif–Naz. Leida: E. J. Brill. 396 páginas. ISBN 978-90-04-09419-2 
  • Canivet, Pierre; Rey-Coquais, Jean-Paul (1992). La Syrie de Byzance à l'Islam: VIIe-VIIIe siècles : actes du colloque international Lyon - Maison de l'Orient méditerranéen, Paris - Institut du monde arabe, 11-15 Septembre 1990. Paris: Instituto Francês de Damas 
  • El Hareir, Idris; M'Baye, El Hadji Ravane (2011). The Different Aspects of Islam Culture: Volume 3, The Spread of Islam throughout the World. Paris: UNESCO 
  • Haldon, John (2010). Money, Power and Politics in Early Islamic Syria. Farnham: Ashgate 
  • ibne Ixaque (2004). The Life of Muhammad. Traduzido por Guillaume, A. Oxônia: Imprensa da Universidade de Oxônia. ISBN 0-19-636033-1 
  • Kaegi, Walter E. (1992). Byzantium and the Early Islamic Conquests. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia 
  • Kaegi, Walter E. (2010). Muslim Expansion and Byzantine Collapse in North Africa. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia. ISBN 0521196779 
  • Peters, Francis E. (1994). Muhammad and the Origins of Islam. Nova Iorque: Imprensa da Universidade Estadual de Nova Iorque 
  • Peterson, Daniel C. (2007). Muhammad, Prophet of God. Grand Rapids, Michigão: Wm. B. Eerdmans Publishing Co 
  • Powers, David S. (2009). Muhammad Is Not the Father of Any of Your Men: The Making of the Last Prophet. Filadélfia, Pensilvânia: Imprensa da Universidade da Pensilvânia 
  • Tucker, Spencer (2010). A Global Chronology of Conflict. Vol. I. Santa Bárbara, Califórnia: ABC-CLIO 



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