Arquitetura islâmica – Wikipédia, a enciclopédia livre

A arquitetura islâmica (em árabe: عمارة إسلامية) agrupa o conjunto de estilos seculares e religiosos aplicados no desenho e construção de edifícios e estruturas, desde a época de fundação do Islão, até os dias atuais.

Os principais tipos de construções da arquitetura islâmica são: as mesquitas, as tumbas ou túmulos (português de Portugal), os palácios e os fortes. De menor importância são os banhos públicos, as fontes, e a arquitetura doméstica.

A coluna, o arco e a cúpula são características marcantes dessa arquitetura, na medida em que as três juntas lhe dão beleza e originalidade.

História[editar | editar código-fonte]

Em 630, quando o exército de Maomé reconquistou a cidade de Meca, o santuário da Caaba foi reconstruído e dedicado ao Islão; a obra foi executada por um náufrago carpinteiro etíope, em seu estilo nativo, e concluída antes da morte de Maomé em 632, vindo a tornar-se um dos primeiros trabalhos de grande envergadura da arquitetura islâmica.

As paredes foram decoradas com pinturas de Jesus, Maria, Abraão, profetas e anjos. A partir do século VIII, a doutrina islâmica, baseada no Hadiz, proibiu o uso de imagens em sua arquitetura, sobretudo as de humanos e de animais.

No século VII, as forças muçulmanas conquistaram extensos territórios. Ao se estabelecerem em uma região, sua primeira preocupação era encontrar um lugar para erguer uma mesquita. O desenho simples, baseado na casa do profeta Maomé, tornou-se o padrão de construção dessas novas mesquitas ou de adaptação de edifícios já construídos como igrejas.

Influências e estilos tradicionais[editar | editar código-fonte]

O Domo da Rocha é um exemplo chave da arquitetura islâmica.

Um estilo de arquitetura islâmica facilmente reconhecível se desenvolveu pouco depois da morte do profeta Maomé, formado a partir de modelos romanos, egípcios, persas e bizantinos. A rapidez de seu surgimento teve como marco o ano 691, com a finalização do Domo da Rocha (Qubbat al-Sakhrah), em Jerusalém, que apresenta traços abobadados, um domo circular, e o uso de estilizados e repetitivos padrões decorativos (arabesco).

A Basílica de Santa Sofia, em Istambul, também influenciou a arte islâmica, ao agregar elementos da arquitetura bizantina. Quando os otomanos capturaram a cidade dos bizantinos, converteram-na de basílica em mesquita, sendo atualmente um museu. Essa igreja também serviu de modelo para muitas outras mesquitas otomanas, como a Mesquita Sehzade e a Mesquita de Süleymaniye.

Arquitetura persa[editar | editar código-fonte]

Uma das primeiras civilizações com a qual o Islã entrou em contato foi com a persa, da qual os islâmicos absorveram abundantes elementos.

Muitas cidades, como Bagdá, por exemplo, foram erguidas junto a construções precedentes, como Firuzabade, na Pérsia. É sabido que dentre as pessoas contratadas por Almançor para desenhar os planos da cidade, encontravam-se Naubakht (نوبخت), um antigo persa seguidor de Zoroastro, e Mashallah (ماشاءالله), um antigo judeu de Coração, Irã.

Arquitetura andaluza ou mourisca[editar | editar código-fonte]

Vista do interior da Mesquita de Córdoba.

A construção da grande Mesquita de Córdoba, começada no ano785, marcou o começo da arquitetura islâmica na Península Ibérica e no norte da África. Essa mesquita se destaca por seus arcos interiores em forma de ferradura.

A arquitetura andaluza atingiu seu clímax com a construção da Alhambra, o magnífico palácio-fortaleza de Granada, com seus espaços abertos e afrescos em roxo, azul e dourado. As paredes são decoradas com estilizados motivos de folhagens, inscrições em árabe, e desenhos com arabescos nas paredes azulejadas.

Pouco antes de concluída a reconquista cristã, a influência islâmica teve seu derradeiro impacto na arquitetura da Espanha, através do estilo mudéjar, mesclando elementos cristãos e muçulmanos.

Arquitetura otomana[editar | editar código-fonte]

A Mesquita Azul em Istambul.

A arquitetura do Império Otomano caracteriza-se por suas grandes mesquitas, baseadas nos modelos de Sinán, como a Mesquita de Süleymaniye, de meados do século XVI. Durante cerca de 500 anos, exemplos da arquitetura bizantina serviram de modelos para a maioria das mesquitas otomanas, como a Mesquita Sehzade e a Mesquita Rüstem Pash.

Os otomanos desenvolveram uma arquitetura de alto nível, nas terras que dominaram. Dominaram a técnica de construir extensos espaços internos confinados por abóbadas, e de alcançar a harmonia perfeita entre os espaços interiores e exteriores, assim como entre a luz e a sombra. A mesquita deixou de ser um compartimento escondido e escuro, com suas paredes cobertas por arabescos, para se tornar um santuário do equilíbrio estético e técnico, da elegância refinada e, de uma forma indireta, do transcendental, do divino.

Arquitetura fatímida[editar | editar código-fonte]

Mesquita de Aláqueme Biamir Alá

Os Fatímidas adotaram o modelo arquitetônico tulúnida, mas também desenvolveram suas próprias técnicas, das quais a Mesquita de Aláqueme é um exemplo. Sua primeira mesquita congregacional, no Cairo, foi a Mesquita de Alazar ("a esplêndida"), que, junto à sua instituição adjacente, a Universidade de Alazar, se converteu no centro espiritual do Ismaelismo.

Outros exemplos destacados dessa arquitetura são as elaboradas construções funerárias e as monumentais portas das muralhas da cidade do Cairo, instaladas pelo poderoso emir e vizir fatímida Badre Aljamali (c. 1073–1094).

Arquitetura mameluca[editar | editar código-fonte]

Mesquita do Sultão Hassan, no Cairo, Egito

No reino dos Mamelucos (1250-1517) a arte islâmica recebeu um impressionante florescimento, caracterizando-se pelo zelo religioso, que viria a se tornar um padrão de arquitetura e das artes em geral. Suas técnicas apuradas utilizavam o claro-escuro e outros recursos óticos para produzir efeitos luminosos em seus edifícios. As abóbadas majestosas, os pátios, e os Minaretes altíssimos (que podem ser vistos nos bairros mais antigos da cidade do Cairo), são uma boa demonstração do esplendor dessa arte.

Arquitetura mogol (Babur)[editar | editar código-fonte]

O Taj Mahal, em Agra, na Índia, construído pelo imperador mogol Shah Jahan, como mausoléu para sua esposa.

Um estilo arquitetônico distinto desenvolveu-se na Índia, por volta do século XVI, com a fusão de elementos persas e hindus. Exemplo desse estilo é a cidade real de Fatehpur Sikri, construída pelo imperador mogol, Akbar, em 1500 aproximadamente.

Mas o exemplo por excelência da Arquitetura mogol é, inegavelmente, o célebre Taj Mahal, "uma lágrima na eternidade", terminado em 1648 pelo imperador Shah Jahan, em memória de sua esposa Mumtaz Mahal, que morreu ao dar à luz o seu 14º filho. Ele representa o ponto culminante da arquitetura islâmica na Índia, sendo reconhecido como um dos mais belos edifícios do mundo. É totalmente simétrico, com exceção do sarcófago de Shah Jahan, que é excêntrico devido à sua colocação no quarto da cripta, debaixo do piso principal. O uso abundante de pedras preciosas e semipreciosas, e a vasta quantidade de mármore branco requerida pela obra, quase levou o império à bancarrota.

Arquitetura sino-islâmica[editar | editar código-fonte]

A Grande mesquita de Xi'an, China.

A primeira mesquita na China surgiu no século VII, durante a Dinastia Tang, em Xi'an. A Grande Mesquita de Xi'an, cujas atuais instalações datam da Dinastia Ming, não imita a maioria das características associadas às mesquitas tradicionais, tendendo a subordinar-se aos clássicos padrões da arquitetura chinesa. As mesquitas localizadas na China ocidental incorporam elementos tipicamente islâmicos, encontrados no Oriente Médio, como minaretes altos, arcos curvos e terraços em forma de cúpula, mas as mesquitas do leste tendem a se assemelhar a pagodes. Ainda assim, a China é renomada por suas belas mesquitas, semelhantes a templos.

A característica mais importante da arquitetura sino-islâmica é sua ênfase na simetria, detalhe que lhe confere uma certa grandeza. Ela se aplica tanto a palácios quanto a mesquitas. Todavia, uma exceção notável encontra-se no desenho de jardins, que tendem a ser assimétricos.

Arquitetura afro-islâmica[editar | editar código-fonte]

Grande Mesquita de Djenné, em Mali, exemplo do estilo de arquitetura afro-islâmica

A conquista muçulmana do norte da África motivou um notável desenvolvimento arquitetônico nessa região, do qual a cidade do Cairo é um de seus exemplos. No Sael, a influência da arquitetura islâmica cresceu inicialmente nas cidades de Jené e de Tombuctu. A Mesquita de Sancoré, em Tombuctu, era similar em estilo à Grande Mesquita de Jené.

Em Cumbi Salé, no bairro onde se concentravam os comerciantes, ergueram-se 12 belas mesquitas (descritas por Albacri). Madeira e barro eram os materiais mais empregados nas construções. A famosa cidade do Benim possuía um grande complexo de edifícios de barro, com terraços de ripas. O palácio real tinha uma sequência de espaços cerimoniais, adornados com placas de cobre amarelo (Bronzes de Benim).

Interpretações[editar | editar código-fonte]

Caligrafia árabe gravada no portal de acesso ao Taj Mahal

As interpretações mais comumente aplicadas à Arquitetura Islâmica, podem ser assim resumidas:

  • O conceito do poder infinito de Alá, que é evocado por desenhos que repetem os temas, sugerindo o Infinito.
  • As formas humanas e animais raramente aparecem na arte decorativa, pois se considera mais importante retratar a obra de Alá.
  • A caligrafia árabe é usada para realçar o interior de um edifício (ou o caminho de acesso a ele, como no Taj Mahal), com citações do Alcorão.
  • A Arquitetura Islâmica tem sido chamada de “arquitetura velada”, porque sua beleza artística não raro se esconde nos espaços interiores dos edifícios (como nos pátios), ocultando-se aos olhos do observador externo. Por outro lado, o uso de formas majestosas, tais como grandes abóbadas e minaretes elevados, pretende transmitir energia e alardear o poder e a cultura muçulmanas.

Veja também[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  • Ettinghausen, Richard and Grabar, Oleg. (1987) The Art and Architecture of Islam: 650 - 1250, Penguin, USA
  • Copplestone, Trewin. (ed). (1963). World architecture - An illustrated history. Hamlyn, London.