Arqueologia processual – Wikipédia, a enciclopédia livre

A arqueologia processual é uma corrente teórica da Arqueologia formulada na década de 1960 pelo arqueólogo estadunidense Lewis Binford e também conhecida como “Nova Arqueologia”[1]. Recebeu influências do neo-evolucionismo, através dos antropólogos culturais Julian Steward e Leslie White.

Desenvolvimento[editar | editar código-fonte]

O advento da Nova Arqueologia, movimento surgido entre as décadas de 1960 e 1990 nos EUA, foi responsável pelo questionamento de muitos conceitos tradicionais da Arqueologia.[2] Por intermédio de um viés analítico, e de certo modo “exato”, através do rigor científico, a Nova Arqueologia apresentou-se como uma ruptura radical das dimensões subjetivistas e empiricistas do pensamento arqueológico anterior, introduzindo maneiras diferentes de se entender a teoria e a prática arqueológica. A “falta” de fundamentos racionalmente observáveis às conclusões obtidas pela Arqueologia tradicional deu impulso ao movimento que, através de noções mais claras e objetivas, definiram um novo caminho ao entendimento dos pressupostos do pensamento arqueológico. A falha da arqueologia tradicional em definir, de forma explícita, como e por que a arqueologia funciona é um dos elementos principais à origem dessa tendência. Por outro lado, a Nova Arqueologia, apesar de ser muito mais explícita a respeito do que faz e de como o faz, utiliza implicitamente a arqueologia tradicional e, ao fazê-lo, acaba padecendo dos mesmos problemas.

Na composição de seu corpus teórico, além do neo-evolucionismo, esta escola embasa-se na Teoria geral de sistemas e no positivismo lógico. Tem como principal foco a identificação e a explicação de processos culturais no registro arqueológico. Advoga enfoques teórico-metodológicos rigorosos no sentido de dotar a Arqueologia de um caráter científico e orientá-la para a solução de problemas e hipóteses cientificamente formulados.

Busca a construção de modelos cuja aplicação à Arqueologia propiciaria a formulação de leis evolutivas que explicassem e interpretassem processos culturais. Enfoca a noção de cultura como um sistema adaptativo, caracterizando as mudanças culturais a partir de fatores internos, destacando a importância de variáveis ambientais nas pesquisas arqueológicas.

A arqueologia processual valoriza o tempo / mudança, tendo como objectivo principal, compreender as causas das mudanças culturais (processo cultural) nos contextos culturais e ambientais em transformação, devendo os arqueólogos dar prioridade à explicação em vez da descrição dos contextos.

A cultura material da Era do Bronze pelas teorias de Lewis Binford:

Características[editar | editar código-fonte]

  • Distinção entre trabalho de campo e a investigação do passado humano;
  • Elaboração de novos modelos de estruturação da nova disciplina; a arqueologia tradicional tendia a identificar os seus pressupostos estruturais com a antropologia sociocultural, o que limitava o seu objetivo essencial como campo científico, que é o de lidar com noções de tempo e mudança presentes nos diferentes tipos de organizações sociais; em suma, “escolher um modelo dessa fonte limitará a arqueologia a ‘estudos funcionais’ não-comprováveis, executados em termos de diferenças e similaridades e não de mudanças”[3];
  • Definições explícitas (e de certo modo também, redefinições) gerais de teorias e métodos existentes no campo arqueológico; métodos eram frequentemente tratados como técnicas, sem muita determinação acerca de seu funcionamento; os variados usos do termo artefato é um exemplo de que não há uma definição geral sobre o emprego desse termo, da qual tais usos pudessem ter uma origem comum; e veja, não só o número de termos e significados de termos se aproxima do número de tipos de problemas atacados pelos arqueólogos, como também estão faltando os meios para falar de métodos em geral, à parte os problemas particulares;
  • Uma busca clara do que é a Arqueologia; freqüentemente, tal questão é explicitada de acordo com o objeto e os objetivos do estudo arqueológico, algo negativo do ponto de vista neo-arqueológico; “quando se tentam definições em termos de objetivos, estes são geralmente casos especiais, definições egocêntricas da disciplina inteira, feitas em termos do que porventura é de interesse para um dado indivíduo”[4].

Essas quatro causas estão intimamente relacionadas às necessidades de constituição de uma teoria da Arqueologia que fosse mais clara, mais evidente, também de um ponto de vista prático. Evidentemente, a Nova Arqueologia conserva ainda traços dessa Arqueologia tradicional, demonstrando a contribuição importante que a anterior foi responsável na construção desse campo do conhecimento humano.

Referências

  1. «FUNARI, Pedro Paulo A. Teoria e métodos na Arqueologia contemporânea: o contexto da Arqueologia Histórica. Dossiê Arqueologias Brasileiras, v. 6, n. 13, p. 2004-2005, 2006.» (PDF). Consultado em 6 de fevereiro de 2015. Arquivado do original (PDF) em 3 de março de 2016 
  2. Trigger, Bruce. A History of Archaeological Thought. Cambridge University Press: New York, p. 148
  3. DUNNELL, Robert C. Classificação em arqueologia. EdUSP, 2007, p. 20.
  4. DUNNELL, Robert C. Classificação em arqueologia. EdUSP, 2007, p. 22.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • BINFORD, Lewis Roberts. New perspectives in archeology. Aldine Pub. Co., 1968.
  • BINFORD, Lewis R. Some comments on historical versus processual archaeology. Southwestern Journal of Anthropology, p. 267-275, 1968.
  • BINFORD, Lewis Roberts. Em Busca do Passado: A descodificação do Registo Arqueológico. Mem Martins: Europa América, 1991, 1991.
  • COSTA, Diogo M. Algumas abordagens teóricas na arqueologia histórica brasileira. Ciência e Cultura, v. 65, n. 2, p. 30-32, 2013.
  • ROBRAHN-GONZÁLEZ, Erika M. Arqueologia em perspectivas: 150 anos de prática e reflexão no estudo de nosso passado. Revista USP, n. 44, p. 10-31, 2000.
  • TRIGGER, Bruce. História do pensamento arqueológico. 2a. ed. São Paulo: Odysseus, 2004.

Ver também[editar | editar código-fonte]

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