Aquidabã (encouraçado de esquadra) – Wikipédia, a enciclopédia livre

Aquidabã
Aquidabã (encouraçado de esquadra)
 Brasil
Operador Armada Imperial Brasileira
Marinha do Brasil
Fabricante Samuda & Brothers
Homônimo Rio Aquidabã
Batimento de quilha 18 de junho de 1883
Lançamento 17 de janeiro de 1885
Comissionamento 14 de agosto de 1885
Comandante(s) Custódio de Melo
Júlio César de Noronha
Alexandrino Faria de Alencar
Arthur da Serra Pinto
Estado Explodiu na Baía de Jacuecanga
Destino Explodiu e afundou na BaíadeJacuecanga em 21 de janeiro de 1906
Características gerais
Tipo de navio Encouraçado a vapor
Deslocamento 5,029 t (11 100 lb)
Comprimento 85,40 m (280 ft)
Boca 17,16 m (56,3 ft)
Calado 5,49 m (18,0 ft)
Propulsão vela, com três mastros armado em Barca
8 caldeiras cilíndricas a carvão
2 máquinas combinadas de três cilindros a vapor
4,500 hp (3,36 kW)
Velocidade 14.5 nós (26,85 km/h)
Armamento 4 canhões de 234 mm (9,2 in)
4 canhões de 140 mm (5,5 in)
11 metralhadoras de 25 mm (0,98 in)
5 metralhadoras de 11 mm (0,43 in)
5 tubos lança-torpedos
Blindagem 178 a 280 mm nas laterais do casco
254 mm nas torretas principais
254 mm na superestrutura
Tripulação 303 homens e oficiais

O Aquidabã foi um encouraçado de esquadra da Armada Imperial Brasileira tendo sido o primeiro navio a ostentar esse nome. O navio foi construído pelo estaleiro Samuda & Brothers em meio a um ostensivo programa de modernização da Armada. Teve a sua quilha batida em 1883, lançado em 17 de janeiro de 1885 e comissionado em 14 de agosto do mesmo ano. Durante seus vários anos de serviço, recebeu alguns apelidos como "Encouraçado de Papelão", por causa de sua blindagem irregular e "Casaca de Ferro", após resistir a três incursões na baía de Guanabara.

O navio de guerra chegou a ser afundado parcialmente pelo contratorpedeiro Gustavo Sampaio na barra norte de Florianópolis em 1894 durante a Revolta da Armada, mas foi rapidamente posto a flutuar. Ele também foi usado como embarcação para experiências de telégrafo sem fio. O encouraçado explodiu sob circunstâncias ainda desconhecidas na baía de Jacuecanga, o naufrágio está localizado a cerca de 8 a 18 metros de profundidade, sendo considerado relativamente perigoso por causa de vários vergalhões expostos e da baixa visibilidade.

Características gerais[editar | editar código-fonte]

Planta do convés e artilharia do 24 de Maio, antes Aquidabã (O Occidente, 1895)[1][2]

Classificado como encouraçado de esquadra, foi construído no Reino Unido pelo estaleiro Samuda & Brothers que operava as margens do rio Tâmisa na cidade de Londres. O navio foi lançado ao mar a 14 de agosto de 1885 e era considerado tecnicamente um dos navios mais avançados de sua época, chegando a atingir dezesseis nós com seus motores de 6 200 cavalos-vapor. Tinha as dimensões de 85,40 metros de comprimento, 15,86 metros de boca e 5,60 metros de calado. Seu deslocamento médio era de 5 029 toneladas.[1][3]

O armamento do vaso de guerra era constituído por quatro canhões de retrocarga Armstrong de retrocarga de 234 milímetros (9.2 polegadas), instalados em duas torres duplas dispostas diagonalmente, uma a boreste e outra a bombordo; quatro canhões de 146 milímetros no convés superior; onze metralhadoras de 25 milímetros, cinco metralhadoras de 11 milímetros e cinco lança-torpedos Whiehead.[1][3][4]

Sua blindagem consistia em uma couraça com espessura entre 177,8 a 279 milímetros e um convés blindado de 304,8 milímetros de espessura. Como a sua couraça não protegia igualmente todo o navio, chegou a ser apelidado de "Encouraçado de Papelão" pelo seu primeiro comandante, Custódio de Melo.[3][5]

História[editar | editar código-fonte]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Em abril de 1880 o então Ministro da Marinha, Almirante José Rodrigues de Lima Duarte, apresentou um relatório à Câmara dos Deputados sobre a urgência de se modernizar a Marinha Imperial, com a adoção de então modernos navios encouraçados. A intenção do Almirante era a de adquirir duas dessas embarcações junto a estaleiros britânicos, e desse modo, foram encomendados os encouraçados Riachuelo e Aquidabã.[6]

Primeiros anos[editar | editar código-fonte]

O Aquidabã bombardeando os Fortes do Rio de Janeiro (desenho de Fouqueray, baseado em uma fotografia, publicado na Revista Le Monde Illustré, nº 1.916, 16/12/1883)

Em novembro de 1891, o Aquidabã cumpriu um papel decisivo na consolidação do golpe de estado, contra a Monarquia, pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Foi de um de seus canhões que saiu o tiro de advertência à Esquadra de São Bento, chegando a danificar o campanário da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores no centro do Rio de Janeiro. O encouraçado atingiu o ápice de sua carreira em 1893, no início da Revolta da Armada, quando voltou a ter a bordo o agora Almirante Custódio de Melo, na chefia de uma rebelião contra o governo do Marechal Floriano Peixoto. O navio cruzou três vezes a baía de Guanabara, resistindo à artilharia de costa e, ainda por cima, levando a bordo o oficial que o chamara de "Encouraçado de Papelão". A partir daí, o seu apelido passou a ser "Casaca de Ferro".[3][7][8][9]

Combate naval de Anhatomirim[editar | editar código-fonte]

Em abril de 1894 encontrava-se nas águas da Baía Norte da Ilha de Santa Catarina. Durante o combate naval de 16 de abril, junto à Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim, foi torpedeado pelo contratorpedeiro Gustavo Sampaio, vindo a afundar parcialmente. Posto a flutuar, foi levado ao Rio de Janeiro para reparos superficiais.[1][3]

Reformas e modernizações[editar | editar código-fonte]

O navio rumou em seguida para a Alemanha e para a Grã-Bretanha, para passar pelos reparos necessárias no casco e máquinas e na artilharia. Somente em 1897 o voltou a navegar, com um armamento ainda mais poderoso: dois canhões Armstrong de 203 milímetros, quatro canhões de 120 milímetros e quinze metralhadoras Nordenfelt.[1][3]

Algum tempo depois o Aquidabã retornou ao estaleiro para ser aparelhado como uma embarcação para experiências de transmissão de telégrafo sem fio. As mudanças foram basicamente, a retirada dos dois mastros militares (instalados durante a reforma), os tubos de torpedo acima da linha d'água e a instalação de um mastro para a transmissão de dados telegráficos.[3]

Naufrágio[editar | editar código-fonte]

O naufrágio de 21 de janeiro de 1906, na Baía de Jacuecanga: explosão e submersão do Aquidabã, à vista dos cruzadores Barroso e Tiradentes (gravura de Angelo Agostini, publicada em O Malho, 1906).

No dia 21 de janeiro de 1906, quando fundeado na baía de Jacuecanga em Angra dos Reis, junto com os cruzadores Barroso e o Tamandaré, quando faltavam poucos minutos para as onze horas da noite, por razões até hoje desconhecidas, o Aquidabã sofreu uma violenta explosão em um de seus paióis contendo cordite, partindo o navio ao meio e vindo a afundar. Pereceram no desastre 212 homens de sua tripulação, inclusive parte da comitiva ministerial que procedia a estudos sobre o novo porto militar, o seu comandante e grande parte da oficialidade do vaso de guerra. Salvaram-se apenas 98 pessoas.[1][3]

A pouca distância, a bordo do cruzador Barroso, o então Ministro da Marinha, Júlio César de Noronha, assistiu à explosão do encouraçado, encontrando-se entre as vítimas, o seu próprio filho, o guarda-marinha Mário de Noronha e um sobrinho, o capitão-tenente Henrique de Noronha, além do contra-almirante Rodrigo José da Rocha e do contra-almirante João Cândido Brazil, patrono do Corpo de Engenheiros Navais da Marinha Brasileira.[1]

A notícia da catástrofe se espalhou imediatamente, tornando manchete dos principais periódicos de todo o mundo. Segundo o pesquisador da área educacional, Ivanildo Fernandes, no dia no naufrágio, foi emitida a seguinte nota de pesar, Expediente de 27 de janeiro de 1906, dirigida ao Presidente Rodrigues Alves, no qual estavam alunos da Academia do Comércio.[9][10]

Illm. Exm. Sr. Dr. Francisco de Paula Rodrigues Alves, Dignissimo Presidente da Republica. Rio de Janeiro, 27 de janeiro de 1906.—Ante o tragico episodio occorrido na enseada de Jacitecanga, os alumnos Academia de Commercio do Rio de Janeiro atual Universidade Candido Mendes no Rio de Janeiro e os seus collegas da Escola Commercial da Bahia, respeitosa e profundamente consternados, veem manifestar a V. Ex. a sua solidariedade na magua que ora compunge a alma da Patria. O momento actual representa para a Republica a mais dura e commovente das provações que ella já ha soffrido. A V. Ex., como dignissimo o directo representante do povo brazileiro, de que somos obscura parcela, cabe receber a expressão da mais sentida condolencia pelo infortúnio que experimentamos. Affeitos e confiados no animo torto de V. Ex., tão sobejamente provado, estamos certos do que a angustia por que passa neste momento a vida nacional, produzirá, longo de desanimo, a vontade de prosseguir no louvável e extraordinario resurgimento observado no governo de V. Ex. Digne-se, pois, permittir V. Ex. que reiteremos os nossos pezames sentidos pela horrorosa, catastrophe que privou o Brazil de um pugilo do tão distinctos e devotados servidores. A nossa dor é, como a de todo o Brazil, inteira, intensa, eterna e inexprimivel. Muito respeitosamente. — A Commissão. Alvaro de Mello.—Julio de Abreu Gomes.—Percilio de Carvalho. Fonte: DOU de 01 de fevereiro de 1906, fls 637.

Repercussão[editar | editar código-fonte]

O couraçado brasileiro 24 de Maio (antes Aquidabã), fundeado no Tejo.[1]

Após este acidente, a Marinha criou um setor responsável pela identificação dos tripulantes, pois diversos corpos encontrados não puderam ser reconhecidos à época. Poucos meses após o naufrágio, a tragédia foi tema da Missa de Requiem do compositor francês Fernand Jouteux (1866-1956)[11] e da obra musical O Batel da Dor, para dois pianos, última obra do autor mineiro Francisco Magalhães do Valle (1869-1906).[12]

Atualmente os destroços repousam a uma profundidade entre 8 e 18 metros, ao largo do monumento em homenagem às vítimas da tragédia, inaugurado em 1913 na Ponta do Pasto. A visibilidade para mergulho no local dificilmente ultrapassa os dois metros de profundidade, podendo chegar até cinco metros em dias excepcionais. Recomenda-se tomar cuidado em função dos vergalhões expostos.[10]

Referências

  1. a b c d e f g h «NGB - Encouraçado de Esquadra Aquidabã». www.naval.com.br. Consultado em 31 de maio de 2021 
  2. «O Occidente» (PDF). O Occidente: 235-237. Consultado em 23 de junho de 2021 
  3. a b c d e f g h «Aquidabã encouraçado» (PDF). Ministério da Marinha. Consultado em 31 de maio de 2021 
  4. Bacerllar, Capitão Tenente Gilberto (1953). «Almirante Huet de Barcelar - Evocando uma vida e uma época - (1881 - 1891)». Revista Marítima Brasileira: 494. ISSN 0034-9860 
  5. «Histórico | Centro de Hidrografia da Marinha». www.marinha.mil.br. Consultado em 31 de maio de 2021 
  6. Júnior, Ludolf Waldmann (outubro de 2018). «Tecnologia e política: a modernização naval na Argentina e Brasil, 1900-1930» (PDF). Universidade Federal de São Carlos. Consultado em 31 de maio de 2021 
  7. «Brasil Republicano». querepublicaeessa.an.gov.br. Consultado em 31 de maio de 2021 
  8. Vessoni, Eduardo (3 de maio de 2021). «115 anos do naufrágio do Aquidabã, o "Encouraçado de Papelão" -». Viagem em Pauta. Consultado em 31 de maio de 2021 
  9. a b Araújo, José Goes de (25 de setembro de 2005). «A tragédia de Jacuecanga - O MB Aquidabã». Brasil Mergulho. Consultado em 31 de maio de 2021 
  10. a b Redação (22 de janeiro de 1906). «Naufrágio Aquidabã». Brasil Mergulho. Consultado em 31 de maio de 2021 
  11. «Diario de Pernambuco (PE) - 1900 a 1909 - DocReader Web». memoria.bn.br. Consultado em 21 de março de 2019 
  12. MOTA, Lúcius; CASTAGNA, Paulo; VALLE, Cyro Eyer do (2008). Francisco Valle. In: CASTAGNA, Paulo (coord.). Francisco Valle; pesquisa musicológica, edição e comentários Lúcius Mota, Paulo Castagna; ‎editoração musical Leonardo Martinelli; revisão técnica Marcelo Campos Hazan; ‎english version Marcelo Campos Hazan, Tom Moore; textos introdutórios Angelo Alves Carrara, Cyro Eyer do Valle, Lúcius Mota, Paulo Castagna; prefácio Aurelio Tello (PDF). Col: (Patrimônio Arquivístico-Músical Mineiro, v.3) (em português e inglês) (PDF). Belo Horizonte: Governo de Minas Gerais / Secretaria de Estado de Cultura. pp. 27–32. ISBN 978-85-99528-17-4. Consultado em 23 de novembro de 2017. Arquivado do original (PDF) em 1 de dezembro de 2017 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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