Apatheia – Wikipédia, a enciclopédia livre

Apatheia (em grego: ἀπάθεια em grego: (a)- "ausência" e πάθος (pathos) - "sofrimento" ou "paixão") de acordo com a filosofia estoica, é um estado de espírito alcançado quando uma pessoa está livre de perturbações emocionais. É melhor traduzida como equanimidade, em vez de indiferença. Não deve ser confundida com o termo apatia - comum no ramo de psicologia e psiquiatria[1] - considerado como um critério de diagnóstico que é caracterizado pela perda de interesse e retardo psicomotor, por exemplo em casos de depressão.[2] De acordo com os estoicos, apatheia é a qualidade que caracteriza o sábio.

Filosofia Antiga[editar | editar código-fonte]

Busto de Antístenes, o fundador do cinismo. Cópia romana a partir de um original helenísta, Museo Pio-Clementino, Sala delle Muse

O termo apatheia referido na língua grega antiga, em geral, é a propriedade de uma coisa ou pessoa de não estar sujeita à influência de algo externo. Se uma pessoa, se caracteriza pela mudança de sentimentos e estados de espírito geralmente desencadeados por percepções sensoriais. Na mente da pessoa sob a apatheia, o estado de espírito é desencadeado pela percepção de eventos no mundo exterior mas sem emoção. Por isso, ela é imparcial, frugal e auto-suficiente (em grego: αὐτάρκεια autharkeia, autarquia);[3] a saudade e o desejo (epithymia) são tão estranhos para ele como o medo. Num sentido mais amplo, entende-se por apatheia a ausência de todas as emoções, incluindo as agradáveis, mesmo que consideradas desejáveis. Muitas vezes, porém, o termo apatheia é usado em um sentido mais restrito na literatura antiga do que apenas ou principalmente de excitações emocionais indesejadas destinadas a serem percebidas de forma negativa, mas de um ponto de vista filosófico.[4]

Na filosofia antiga, o termo apatheia tanto foi entendida no sentido moderado de repressão e controle de emoções dolorosas e destrutivas, - como a raiva, o medo, a inveja e o ódio - quanto no sentido radical de extirpação completa de tais emoções. A apatheia era um pré-requisito para a realização da ataraxia (firmeza de espírito) e foi considerada como um bem importante ou mesmo um bem supremo. Foi neste sentido que Antístenes, o fundador do cinismo a compreendeu e a definiu como um objetivo desejável a quem Sócrates serviu como modelo.[5] Os estoicos tiveram essa ideia e fez dela a parte central de sua doutrina, a libertação da tirania que nos afeta permite-nos a serenidade, a paz de espírito e a sanidade na ação. A repressão ao sentimento também incluiu a compaixão e o remorso, pois causam dor, o que não é aceitável para um sábio estoico, do mesmo modo que a compaixão, a inveja causa dor sendo também colocada no mesmo nível.[6] A apatheia perfeita era considerada uma marca do sábio estoico. Assim escreveu o estoico Marco Aurélio:[7]

Seja como o promontório contra o qual as ondas quebram continuamente, mas se mantém firme e doma a fúria da água ao seu redor.
— Marco Aurélio

Aristóteles afirmava que a virtude estava no meio termo entre o excesso e a falta de emoção (metriopatheia),[8] os estoicos, por outro lado, buscavam a libertação de todas as paixões (apatheia).[9]

Ele procurou eliminar as respostas emocionais aos eventos externos que estão além do controle da pessoa. Para os estoicos, era a resposta racional ideal para um indivíduo, porque não podemos controlar os acontecimentos originários da vontade dos outros ou pela Natureza, só podemos controlar a nossa própria vontade. Isto não implica a perda de todo o sentimento ou cortar suas relações com o mundo. Um estoico realiza julgamentos e atos virtuosos experimenta a felicidade[9] (eudaimonia) e bons sentimentos (eupatheia).

O termo foi adotado por Plotino em seu desenvolvimento do neoplatonismo como a liberdade da alma de emoção conseguido quando se atinge o seu estado purificado.

O termo faz parte do cristianismo primitivo, onde apatheia significa liberdade de necessidades e impulsos indisciplinados. O monasticismo ortodoxo ainda usa o termo neste sentido.

A dor é leve, se a opinião não acrescentar nada a ela; ... pensando que ligeira, você irá torná-la leve. Tudo depende da opinião, ambição, luxúria, ganância..... É de acordo com a opinião que nós sofremos. ... Por isso, vamos ganhar o caminho para a vitória em todas as nossas lutas, - pois a recompensa é ... virtude, firmeza de alma, e uma paz que é ganha para todos os tempos.
— Seneca, Epístolas, LXXVIII. 13-16

Veja também[editar | editar código-fonte]

Wikcionário
Wikcionário
O Wikcionário tem o verbete apatheia .

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Álvaro Cabral; Eva Nick. Dicionário Técnico de Psicologia. Editora Cultrix; 1996. ISBN 978-85-316-0131-6. p. 27.
  2. Leonardo Caixeta. Doenças de Alzheimer. Artmed; ISBN 978-85-363-2702-0. p. 411.
  3. Robert Mayhew. Aristotle's Criticism of Plato's Republic. Rowman & Littlefield; 1997. ISBN 978-0-8476-8655-1. p. 54.
  4. Herbert Frohnhofen, Apatheia tou theou. Über die Affektlosigkeit Gottes in der griechischen Antike und bei den griechischsprachigen Kirchenvätern bis zu Gregorios Thaumaturgos. Lang, Frankfurt am Main 1987, Zugl.: München, Univ., Diss., 1987, ISBN 3-8204-1103-8, p. 28-49
  5. Samuel Wells; Ben Quash. Introducing Christian Ethics. John Wiley & Sons; 2010. ISBN 978-1-4051-5277-8. p. 63.
  6. Michel Spanneut: Apatheia ancienne, apatheia chrétienne, Ière partie: L'apatheia ancienne. In: Aufstieg und Niedergang der römischen Welt, Teil II Band 36/7, Berlin 1994, S. 4658f., 4684.
  7. Marco Aurélio. «Meditações» (em inglês). The Internet Classics Archive. Consultado em 27 de maio de 2014 
  8. Gottlieb Anthony; titulo="The Dream of Reason"- Aristóteles; pp. 268-69; publicado=Allen Lanes, The Penguin Press; (2000); ISBN 0-713-99143-7.
  9. a b Gottlieb Anthony; titulo="The Dream of Reason"- Estoicos; pp. 293-295-314-15; publicado=Allen Lanes, The Penguin Press; (2000); ISBN 0-713-99143-7. (em inglês)
  • Richard Sorabji, (2002), Emotion and Peace of Mind: From Stoic Agitation to Christian Temptation, Oxford University Pres