António Moniz Barreto Corte Real – Wikipédia, a enciclopédia livre

António Moniz Barreto Corte Real
António Moniz Barreto Corte Real
Nascimento 8 de dezembro de 1804
Angra do Heroísmo
Morte 23 de setembro de 1888 (83 anos)
Angra do Heroísmo
Cidadania Reino de Portugal
Alma mater
Ocupação professor, escritor, jornalista
Empregador(a) Escola Secundária Jerónimo Emiliano de Andrade

António Moniz Barreto Corte Real (Angra, 8 de dezembro de 1804Angra do Heroísmo, 23 de setembro de 1888), foi um professor liceal, jornalista e escritor que exerceu relevantes funções políticas.[1] Foi considerado uma das mais interessantes e celebradas figuras da intelectualidade açoriana da primeira metade do século XIX, pedagogo, escritor e árbitro de elegâncias literárias.[1][2] É também justamente considerado o percursor da etnografia açoriano pelo seu estudo sobre as festas do Espírito Santo na Terceira.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Foi filho de João Moniz Corte Real e de D. Mariana Isabel de Sá, com ambos os progenitores ligados a importantes famílias da pequena aristocracia da ilha Terceira. Depois de estudos iniciais na sua cidade natal, obteve em 1831 o grau de bacharel em Cânones pela Universidade de Coimbra. Nesse mesmo ano publicou em Coimbra a sua mais conhecida obra literária, intitulada Belezas de Coimbra, um livro de prosa romântica que faz uma cuidada descrição de monumentos e paisagens daquela cidade. Esta obra de juventude, teria 26 anos de idade quando a publicou, marcaria a sua imagem como um escritor conservador e preocupado com o usos perfeito da língua portuguesa, que manteria sempre nos seus escritos, afirmando-se um apaixonado pelo bom uso da língua materna, que estudou e defendeu denodadamente.[1][3]

No ano imediato ingressou na carreira docente, sendo nomeado, por concurso, professor de Aritmética, Geometria, Geografia e Cronologia na cidade de Évora, iniciando uma longa carreira docente que depois continuaria, após a criação dos Liceus, como professor liceal.

Manteve-se em Évora até 1834, ou seja até ao termo da Guerra Civil Portuguesa, ano em que estabilização da situação política em Angra lhe permitiu ensaiar um regresso à sua cidade natal. Em Angra empregou-se como advogado, sendo nomeado director e revisor da imprensa da Prefeitura e redactor da Crónica Constitucional de Angra, cargo de que se demitiu no ano seguinte.[1]

Chegado a Angra encontrou a cidade ainda agitada pelo rescaldo das lutas civis de que tinha sido o centro, mas nunca se sentiu verdadeiramente disposto a participar na actividade política. Ainda assim, recrutado pelos cartistas, a facção mais moderada da primeira fase da Monarquia Constitucional Portuguesa, numa tentativa de moderar acção dos reformistas, mas a sua acção como publicista derivou para o campo da literatura, da etnografia e história local. Foi um dos redactores, com o padre Jerónimo Emiliano de Andrade, de um periódico de carácter literário, avesso à acção política, O Anunciador da Terceira (1842-1843).[4]

Em O Annunciador da Terceira publicou um estudo sobre as festas do Espírito Santo que fez dele o precursor da etnografia açoriana, deixando uma das mais antigas e completas descrições conhecida dessas festividades. O gosto pelos periódicos de carácter cultural manteve-se ao longo de toda a sua vida, sendo responsável, ou colaborador por várias iniciativas editoriais, entre as quais O Pregoeiro (1843), o Terceirense (1844-1845) e principalmente O Lyceo (1855-1856), que fundou e onde publicou boa parte da sua obra pedagógica.[5]

Com a criação, em 1845, do Liceu de Angra do Heroísmo, logo em 1846 foi nomeado professor das 3.ª e 4.ª cadeiras (Matemática e Filosofia) daquele estabelecimento de ensino secundário. Com o falecimento de Jerónimo Emiliano de Andrade, o primeiro reitor da instituição, em 1848 foi nomeado Comissário dos Estudos para o Distrito de Angra do Heroísmo e reitor do liceu, sendo o segundo reitor da instituição e o principal responsável pela sua estruturação e instalação.

Para além da sua vasta produção literária dispersa por periódicos, criando uma longa e dispersa bibliografia, demonstrou uma rara vocação como pedagogo, continuando o esforço do padre Jerónimo Emiliano de Andrade, e seus sucessores, na produção local de compêndios, gramáticas e documentos contendo orientações pedagógicas dirigidas aos professores de Português e Latim.[6] Nestas áreas era considerado um erudito, com renome como latinista e helenista.[1]

A sua carreira liceal foi muito longa, prolongando-se até à década de 1880, quando já tinha ultrapassado os 75 anos de idade. A idade e a doença, que nunca reconheceu, levaram a que as suas aulas se fossem degradando, bem como a sua capacidade de liderança no Liceu, o que em 1883 levaria a uma demissão polémica do cargo de reitor, em conflito aberto com o corpo docente, numa altura em que também a qualidade das suas aulas era alvo de graves críticas.

Apesar de ter evitado o envolvimento nas lutas políticas acabaria por exercer importante acção política com sucessivos cargos na administração local. Foi juiz de Direito substituto e exerceu com distinção, por diversas vezes, os cargos de vereador da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo e foi e um influente vogal da Junta Geral e do Conselho Distrital do Distrito de Angra do Heroísmo.[1]

Quando em 3 de março de 1845 se lançou a primeira pedra do monumento a D. Pedro IV, era o Dr. António Moniz Barreto Corte Real vice-presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo. O brilhante discurso, que pronunciou neste acto solene, foi a prova incontestável dos seus sentimentos patrióticos e liberais.

A sua obra caiu largamente no esquecimento, sendo contudo merecedora de uma nova análise, particularmente os trabalhos que deixou dispersos. Foi desde cedo considerado pelo seu superior talento e grandes conhecimentos, uma figura distinta que honrou a pátria e as letras. A ele se deve a edição da obra de Francisco Ferreira Drummond intitulada Anais da Ilha Terceira, hoje considerada um dos marcos da historiografia açoriana.

Obras publicadas[editar | editar código-fonte]

Para além de múltiplos discursos, relatórios e importantes artigos, que foram publicados em vários jornais, é autor, entre outras, das seguintes obras:[7][8]

  • Bellezas de Coimbra (primeira parte). Coimbra, Real Imprensa da Universidade, 1831.
  • «Uma festa do Espírito Santo» in O Anunciador da Terceira, n.ºs 5-12, 1842.
  • O desejo. Descripção do diluvio de Salomão Gessner, 1844.
  • A Violeta, 1844.
  • Cartilha para uso das escolas do distrito de Angra do Heroísmo. Selecta em verso. Angra do Heroísmo, Tip. M. J. P. Leal, 1857.
  • Bibliothecasinha da Infância, 1846.
  • Epítome de Gramática Portuguesa, Angra do Heroísmo, Tip. M. J. P. Leal, 1859.
  • Selecta Classica acomodada ao uso das escolas do Distrito de Angra do Heroísmo. Angra do Heroísmo, Tip. M. J. P. Leal, 1860.
  • Selectasinha da Infância.
  • Synopse da grammatica portugueza.
  • O Lyceo, Typographia M. J. Pereira Leal, Angra do Heroísmo, 1855-1856.
  • «Circular aos professores sobre o ensino do português e latim» in Boletim Official do Distrito Administrativo de Angra do Heroísmo, 1862-1865.
  • Proposta de reforma ortográfica submetida à Academia Real das Ciências de Lisboa e vários aplausos. Angra do Heroísmo, Tip. Angrense, 1877.

Notas

  1. a b c d e f «Corte-Real, António Moniz Barreto» na Enciclopédia Açoriana.
  2. Augusto Ribeiro, «Dr. António Moniz Barreto Corte-Real» in Album Açoriano, pp. 409-411. Lisboa, Ed. Oliveira e Baptista, 1903.
  3. Augusto Ribeiro, «Dr. Antonio Moniz Barreto Côrte-Real» in Album Açoreano, pp. 409-411. Lisboa, 1907.
  4. O Annunciador da Terceira no Centro de Conhecimento dos Açores.
  5. José Joaquim Pinheiro, Introdução da imprensa nos Açores. Arquivo dos Açores, VIII: 485 e segs. Ponta Delgada, 1985 (2.ª edição).
  6. Ernesto do Canto, Bibliotheca Açoriana, vol. I: 27. Ponta Delgada, Typ. do Archivo dos Açores, 1890.
  7. João Afonso, Bibliografia Geral dos Açores, vol. II: 366 e segs. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional de Educação e Cultura, 1985.
  8. Inocêncio Francisco da Silva, Diccionario Bibliographico Portuguez. 2ª ed., Lisboa, Imp. Nacional, I: 207, VIII: 255, XXII: 323, app.: 47.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Alfredo Luís Campos, Memória da Visita Regia à Ilha Terceira, Imprensa Municipal, Angra do Heroísmo, 1903.