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Ângela Maria
Angela Maria
Angela Maria em 1960
Informação geral
Nome completo Abelim Maria da Cunha
Também conhecido(a) como Sapoti
Nascimento 13 de maio de 1929
Local de nascimento Macaé,[nota 1] RJ
Morte 29 de setembro de 2018 (89 anos)
Local de morte São Paulo, SP
Nacionalidade brasileira
Gênero(s)
Instrumento(s) voz
Período em atividade 1948–2018
Gravadora(s)
Afiliação(ões)
Página oficial Site Oficial

Ângela Maria, nome artístico de Abelim Maria da Cunha (Macaé, 13 de maio de 1929[nota 1]São Paulo, 29 de setembro de 2018), foi uma cantora, compositora e atriz brasileira, expoente da Era do Rádio, considerada dona de uma das melhores vozes da MPB e eleita a Rainha do Rádio em 1954.[1] Também é uma das cantoras brasileiras que mais venderam discos, cerca de 60 milhões de discos.[2] Angela Maria é conhecida pelos grandes críticos da música nacional e internacional como a maior voz do Brasil.[3]

Intérprete de canções como Babalu (Margarita Lecuona), Gente Humilde (Garoto/Chico Buarque/Vinicius de Moraes), Cinderela (Adelino Moreira) e Orgulho (Waldir Rocha/Nelson Wederkind), serviu como fonte de inspiração para artistas como Elis Regina, Djavan, Milton Nascimento, Ney Matogrosso, Cesária Évora e Gal Costa, além de ter sido, comprovadamente pelo Ibope, por um longo período, a cantora mais popular do Brasil e conquistado a admiração de personalidades como Édith Piaf, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Amália Rodrigues e Louis Armstrong.

Biografia e carreira[editar | editar código-fonte]

A cantora nasceu no ano de 1929, no interior fluminense, no então distrito de Conceição de Macabu,[4] em Macaé.[5][6][nota 1] De família muito humilde, sua mãe era dona-de-casa, e seu pai, pastor da igreja batista. Por conta disso, desde criança cantava no coral de uma igreja próxima da sua casa e com isso foi aprendendo a amar a música e o universo das melodias. Durante a infância e adolescência, devido a dificuldades financeiras, morou com a família nas cidades de Niterói, São Gonçalo e Nova Iguaçu, fixando moradia na cidade do Rio de Janeiro, em busca de uma vida melhor, em cidade com mais recursos. Durante sua juventude trabalhou como empacotadora em uma fábrica de lâmpadas, e também como operária tecelã em uma fábrica de tecidos, mas sempre sonhou em ser cantora. Nesta época já compunha suas primeiras canções. A jovem almejava trabalhar nas rádios e alcançar o sucesso, mas seu pai era contra, por ser muito religioso, querendo que a filha se convertesse à religião evangélica e se casasse cedo. Angela não tinha o desejo de viver assim, e foi atrás do seu grande sonho, que era cantar. Inscreveu-se em diversos concursos de rádio, e passou na maioria deles. Contratada para cantar nas rádios, e também participar de novelas radiofônicas, não poderia perder esta grande oportunidade, e nem deixar seu pai saber. A solução foi inventar um curso de costura após o expediente de trabalho, mas na verdade ia cantar e atuar nas rádios, fazendo uma voz mais suave para que a família não a reconhecesse, passando a se apresentar como Angela Maria. Em 1947, aos dezenove anos, trabalhava de dia e à noite tentava por todos os meios conseguir vaga em algum programa de música. Ia de rádio em rádio fazer inscrições para sorteios, até que conseguiu ser premiada e se apresentou aos jurados em uma rádio, passando no teste. Com isso, começou a apresentar-se como cantora no Pescando Estrelas, um programa de calouros. Sua interpretação era considerada belíssima, sempre tirava nota máxima e ganhava todos os concursos. Todos a queriam para cantora e foi cantar no famoso Dancing Avenida e depois na rádio Mayrink Veiga. Em 1951, já com o aval da família, mesmo após inúmeras brigas, gravou o primeiro disco. Vieram assim os sucessos que a consagraram.[7]

Angela Maria com Carmen Miranda e Almirante em 1955. Arquivo Nacional.
Angela Maria, ao receber o prêmio de melhores de 1959. Arquivo Nacional.

Com grande sucesso no Brasil, passou a viajar o mundo com canções belíssimas em sua voz, considerada muito harmônica. Além de cantora, fez cursos de teatro e atuou em cinema, no longa-metragem Portugal... Minha Saudade em 1973, comédia produzida, dirigida e estrelada por Mazzaropi.

Angela Maria consagrou-se como uma das grandes intérpretes do gênero samba-canção (surgido na década de 1930), ao lado de Maysa, Nora Ney e Dolores Duran.

Gravou dezenas de sucessos como: Não Tenho Você, Babalu, Cinderela, Moça Bonita, Vá, mas Volte, Garota Solitária, Falhaste Coração, Canto Paraguaio, A Noite e a Despedida, Gente Humilde, Lábios de Mel, e outros.

Angela sempre contou em entrevistas ter sofrido na vida pessoal. Nunca conseguiu ter filhos, devido a uma endometriose, que foi diagnosticada ainda na adolescência, o que a deixou muito abalada. Durante sua vida, foi constantemente alvo da mídia, que sempre tocava no assunto maternidade, ou a imprensa inventava boatos sobre sua infertilidade, a deixando magoada, pois ela sempre quis ser mãe. Apesar de ter feito inúmeros tratamentos de fertilização, nunca conseguiu êxito. Foi casada seis vezes,[carece de fontes?] mas apenas um casamento foi oficializado, a conturbada união com o empresário carioca Rodolfo Valentino Aleksitch, que terminou em 1965, depois de sete anos.[8] Na época em que se casou, Angela estava no auge da carreira e conseguira acumular um considerável patrimônio financeiro.[9] A cantora revelaria depois que por conta de tantos problemas pessoais e profissionais, desenvolveu depressão, e que já havia tentado o suicídio.[10] Contou que quase perdeu tudo, já que seu patrimônio era administrado por seus assessores, que não pagavam suas contas e a roubavam constantemente. Em 1967, desesperada com sua vida, sem recursos financeiros e brigada com a família, mudou-se sozinha para São Paulo, cidade onde viveu até o fim de sua vida, disposta a recomeçar do zero. Apesar de cantar em pequenos eventos, ainda continuava a ser vítima de assessores e ex-maridos desonestos. Apesar de ter ficado muito tempo sendo explorada, Angela voltou a brilhar no meio artístico e tinha como grandes amigos, Cauby Peixoto e Dalva de Oliveira. Conheceu Daniel D'Ângelo, com quem se casou e conviveu até a morte da cantora. Daniel foi quem mais a ajudou a superar a crise financeira e emocional.[10]

Em 1979, aos cinquenta anos, conheceu Daniel D'Ângelo de dezoito anos. Ele era noivo e apaixonaram-se, o que o fez separar-se da noiva e irem morar juntos, com quatro filhos adotivos: Angela Cristina, Lis Ângela, Rosângela e Alexandre. A união durou 39 anos, até a morte de Angela em 2018.[11] Depois de 33 anos juntos, decidiram oficializar a união. Em 13 de maio de 2012, no dia do seu aniversário de 83 anos, e ele com 51, casaram-se oficialmente, em uma cerimônia íntima realizada no interior do estado do Rio de Janeiro.[12]

Em 1994 foi homenageada pela escola de samba paulistana Rosas de Ouro, que com o enredo Sapoti, foi consagrada campeã do carnaval de São Paulo daquele ano.

Neste mesmo ano o cantor Ney Matogrosso gravou o disco Estava Escrito, em homenagem a Angela Maria. O álbum contém canções do repertório da cantora que ficaram consagradas na sua voz.

Em 1996, foi contratada pela gravadora Sony Music e lançou o CD Amigos, com a participação de vários artistas como Roberto Carlos, Gal Costa, Caetano Veloso, Alcione, Fafá de Belém entre outros. O trabalho foi um sucesso, celebrado num espetáculo no Metropolitan, atual Claro Hall, no Rio de Janeiro, e um especial na Rede Globo. O disco vendeu mais de quinhentas mil cópias.

Foi uma fase muito feliz da carreira da cantora que, no ano seguinte, apresentou o álbum Pela Saudade que me Invade, com sucessos de Dalva de Oliveira; e um ano depois gravou com Agnaldo Timóteo, o CD Só Sucessos, também na lista dos cem álbuns nacionais mais vendidos. Após a saída da Sony, Angela voltou a gravar em 2003, desta vez pela Lua Discos, o Disco de Ouro, com um viés eclético, abrangendo compositores que vão de Djavan a Dolores Duran.

Em 2011, após 45 anos do surgimento da série Depoimentos para a Posteridade do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, foi convidada, em 23 de agosto, para deixar registrada sua história. Na entrevista contou passagens importantes de sua carreira artística, afirmando ter gravado 114 discos e vendido cerca de 60 milhões de exemplares.

Nas eleições municipais de 2012, candidatou-se a vereadora da cidade de São Paulo pelo PTB, porém não se elegeu.[13]

Em 2015 foi lançada a sua biografia escrita pelo jornalista Rodrigo Faour, que contou com depoimentos preciosos da cantora. No mesmo ano, Angela e seu grande amigo Cauby Peixoto iniciaram uma turnê por várias capitais brasileiras, subindo aos palcos com a apresentação do musical "120 Anos de Música" em comemoração aos sessenta anos de suas carreiras. O último encontro dos dois artistas aconteceu na apresentação do dia 3 de maio de 2016, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.[14] Uma semana depois, Cauby seria internado para tratar de uma pneumonia, mas não resistiu e morreu no dia 15 de maio.

Morte[editar | editar código-fonte]

Ângela Maria morreu na cidade de São Paulo, a apenas alguns meses de completar 90 anos, no dia 29 de setembro de 2018, aos 89 anos, em decorrência de uma infecção generalizada, que levou a uma parada cardíaca.[15] Estava internada havia 34 dias em um hospital da Zona Sul de São Paulo. O velório e o sepultamento foram programados para o dia seguinte, no Cemitério de Congonhas, também na Zona Sul paulistana. A TV Globo preparava uma minissérie contando a trajetória de Ângela, cuja estreia estava prevista para 2019, mas não se concretizou.[16]

Discografia[editar | editar código-fonte]

Álbuns de estúdio[editar | editar código-fonte]

Ano Álbum Gravadora
1954 A Rainha Canta Copacabana
1955 Sucessos de Ontem na Voz de Hoje Copacabana
1956 Ângela Maria Apresenta Copacabana
1957 Quando Os Maestros Se Encontram Com Angela Maria Copacabana
1958 Quando os Astros se Encontram Copacabana
1958 Para Você Ouvir e Dançar Copacabana
1959 Angela Maria Canta Sucessos de David Nasser Copacabana
1959 Angela Maria Apresenta Fernando César e Seus Amigos Copacabana
1960 Quando a Noite Vem Continental
1961 Não Tenho Você Continental
1962 Incomparável RCA Victor
1962 Angela Maria Canta Para o Mundo RCA Victor
1963 Angela Maria Canta Para o Mundo - Vol. 2 RCA Victor
1963 Presença de Angela Maria RCA Victor
1964 Angela a Maior Maria RCA Victor
1965 Boneca Copacabana
1966 Angela Maria Interpreta Boleros Copacabana
1966 A Brasileiríssima Angela Maria Copacabana
1967 O Samba Vem Lá de Cima Copacabana
1967 Meu Amor é Uma Canção Copacabana
1968 A Grande Mentira Copacabana
1969 Angela em Tempo Jovem Copacabana
1970 Angela de Todos os Temas Copacabana
1971 Angela Copacabana
1972 Angela Copacabana
1975 Angela Copacabana
1977 Angela Maria Copacabana
1977 Os Mais Famosos Tangos Copacabana
1977 Os Mais Famosos Fados Copacabana
1978 Com Amor e Carinho Odeon
1979 Angela & Timóteo Juntos Odeon
1980 Apenas Mulher Odeon
1982 Estrelas da Canção Odeon
1982 Angela & Cauby Odeon
1983 Sempre Angela Odeon
1985 Angela Maria RGE
1987 Angela Maria RGE
1996 Amigos Columbia
1997 Pela Saudade que me Invade (Um Tributo a Dalva de Oliveira) Columbia
1999 Angela & Agnaldo Sucesso Sempre Sony
2003 Disco de Ouro Lua Music
2011 Eu Voltei Lua Music
2013 Angela e Cauby - Reencontro Nova Estação
2015 Angela à Vontade em Voz & Violão Nova Estação
2017 Ângela Maria e as Canções de Roberto & Erasmo Biscoito Fino

Álbuns ao vivo[editar | editar código-fonte]

Ano Álbum Gravadora
1992 Angela & Cauby - Ao Vivo RCA
2018 Angela Maria & Nelson Gonçalves Nova Estação

Coletâneas[editar | editar código-fonte]

Ano Álbum Gravadora
1955 Sucessos de Angela Maria Copacabana
1955 Sucessos de Angela Maria Nº2 Copacabana
1956 Isto é Angela Maria! RCA Victor
1957 Sucessos de Angela Maria Nº3 Copacabana
1959 Angela Maria Copacabana
1973 Série Colagem Copacabana

Filmografia[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas e referências

Notas

  1. a b c A localidade onde Angela Maria nasceu é a atual cidade de Conceição de Macabu. No ano de seu nascimento (1929), a localidade era ainda um distrito do município de Macaé, pelo decreto estadual n.º 52, de 29 de abril de 1892. Pela lei estadual n.º 1438, de 15 de março de 1952, 23 anos depois do nascimento da cantora, o distrito foi emancipado, desmembrando-se de Macaé e elevado à categoria de município com a mesma denominação de Conceição de Macabu. Fonte: IBGE

Referências

  1. «Ângela Maria». Museu da TV. Arquivado do original em 18 de maio de 2015 
  2. Redação do Jornal (30 de setembro de 2018). «Morre, aos 89 anos, a cantora Angela Maria». O Globo. Consultado em 11 de janeiro de 2019 
  3. Elis Regina (5 de setembro de 1980). «"Ângela Maria é para mim a maior cantora que o Brasil já teve e vai continuar tendo por muito tempo."». UOL. Consultado em 11 de janeiro de 2019 
  4. «Conceição de Macabu é berço de muitos talentos musicais». www.conceicaodemacabu.rj.gov.br. Consultado em 1 de novembro de 2021 
  5. «Biografia de Angela Maria recorda carreira e vida pessoal da cantora». Folha de S.Paulo. 17 de novembro de 2015. Consultado em 11 de março de 2020 
  6. «Natural de Macaé, cantora Angela Maria é enterrada». Globoplay. 1 de outubro de 2018. Consultado em 11 de março de 2020 
  7. Angela MariaMPB
  8. «Ângela Maria tirou tudo de Rodolfo!» (PDF). Memória BN. Revista do Rádio. 8 de maio de 1965. p. 6 
  9. «Ângela pode parar - Boatos mais uma vez envolvendo o nome da estrela» (PDF). Memória BN. Revista do Rádio. 5 de dezembro de 1959. p. 10 
  10. a b «Cantora conta como superou fase difícil». Arquivado do original em 5 de outubro de 2013 
  11. Morre em SP, aos 89 anos, a artista Angela Maria
  12. Após 33 anos de namoro, a cantora Ângela Maria se casa aos 84 anos de idade
  13. «Angela Maria». UOL Eleições. Cópia arquivada em 12 de janeiro de 2019 
  14. Cauby e Ângela Maria comemoravam com shows os "120 anos de carreira"
  15. «Angela Maria, rainha do rádio, morre aos 89 anos». G1. 30 de setembro de 2018 
  16. «Morre em São Paulo, aos 89 anos, a cantora Angela Maria». UOL Música. 30 de setembro de 2018 
  17. Cinemateca Brasileira, Rua Sem Sol] Cinemateca
  18. Cinemateca Brasileira, Carnaval Barra Limpa Cinemateca

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Precedida por
Emilinha Borba
Rainha do Rádio
1954 - 1955
Sucedida por
Vera Lúcia