Angústia (romance) – Wikipédia, a enciclopédia livre

Angústia
Angústia (romance)
Capa da 1a. edição
Autor(es) Graciliano Ramos
País  Brasil
Assunto Angústia, solidão, ausência de sentido para a vida
Gênero Romance
Editora José Olympio (1936)
Lançamento 1936
Páginas 368
Cronologia
São Bernardo
Vidas Secas

Angústia (1936) é o terceiro romance publicado por Graciliano Ramos, depois de Caetés (1933) e de São Bernardo (1934), e antes de Vidas secas (1938), uma das obras mais comentadas pela crítica literária.[1]

Em 1936, Graciliano trabalhava como Diretor de Instrução Pública de Alagoas e vinha recebendo ameaças. Poucos meses depois, seria demitido. Passa então a se dedicar apenas à finalização de Angústia, apesar da tensão e das dificuldades financeiras. Finalmente, é preso em 3 de março de 1936, mesmo dia em que entregara o manuscrito do romance para a datilografia. Permaneceria preso nos dez meses seguintes - em Maceió, Recife e no Rio de Janeiro - sem jamais ter sido ouvido, sem uma acusação formal, sem que soubesse os motivos de sua prisão. O romance foi publicado graças à ajuda de amigos, entre os quais José Lins do Rego.[1]

Sinopse[editar | editar código-fonte]

A obra é escrita em primeira pessoa. O narrador, Luís da Silva, é um funcionário público de 35 anos, solitário, desgostoso da vida e que acaba se envolvendo com sua vizinha, Marina. Com traços existencialistas, Luís mistura fatos do passado e do presente, narra num ritmo frenético, utilizando-se do fluxo de consciência[2].

O leitor de Angústia certamente lembrar-se-á de Crime e Castigo, de Dostoiévski, pois em ambas as obras existe a angústia decorrente de um crime, o medo de ser pego, a febre. Mas, em Angústia, o crime é o clímax, enquanto que, em Crime e Castigo, é o ponto de partida para a trama, e afinal a personagem consegue a redenção. Outra influência marcante é a dos naturalistas brasileiros, especialmente de Aluízio Azevedo, no tocante ao determinismo e à animalização do homem. O narrador não quer ser um rato, luta contra isso; frequentemente compara os humanos (inclusive ele próprio) a bichos (porcos, formigas, baratas, ratos) e usa verbos normalmente aplicáveis a animais para descrever reações humanas.

Crítica[editar | editar código-fonte]

Sobre Angústia, escreve Alfredo Bosi:
"Tudo nesse romance sufocante lembra o adjetivo 'degradado' que se apõe ao universo do herói problemático; estamos no limite entre o romance de tensão crítica e o romance intimista. Foi a experiência mais moderna, e até certo ponto marginal, de Graciliano. Mas a sua descendência na prosa brasileira está viva até hoje".[3]

Apesar de ter lido Crime e Castigo, Graciliano inicialmente não admite qualquer semelhança da obra de Dostoiévski com Angústia.[4] Em 12 de novembro de 1945, ele escreve a Antonio Candido, avaliando as considerações do crítico a respeito do romance:

Onde as nossas opiniões coincidem é no julgamento de Angústia. Sempre achei absurdos os elogios a esse livro, e alguns, verdadeiros disparates, me exasperam, pois nunca tive semelhança com Dostoiévski nem com outros gigantes. O que sou é uma espécie de Fabiano, e seria Fabiano completo se a seca houvesse destruído a minha gente, como v. bem conhece.[5]
— Graciliano Ramos

Segundo Ricardo Ramos, filho do escritor, Graciliano só admitiria ter sofrido a influência de Dostoiévski às vésperas da sua morte, quando enfim reconheceu não apenas a influência de Dostoiévski mas também de Tolstoi, Balzac e Zola, além do seu permanente interesse pela literatura russa.[6]

Ainda a propósito de sua obra, o Graciliano escreve:

Acho em Angústia numerosos defeitos, repetições excessivas, minúcias talvez desnecessárias. E tudo mal escrito. Mas se, apesar disso, der ao leitor uma impressão razoável, devo concordar com v. É possível até que as falhas tenham concorrido para levar na história aparência de realidade. E alguns capítulos não me parecem ruins.[7]
— Graciliano Ramos

Referências

  1. a b Scherer, Larissa Angústia, de Graciliano Ramos: investigções sobre o estado de angústia e a trajetória do personagem Luís da Silva". Cadernos Literários, v. 28, nº 1, pp 54-66.
  2. Lopes, Renan Silva de Souza (28 de agosto de 2013). «O fluxo da consciência em Angústia, de Graciliano Ramos». UFPB. Consultado em 18 de julho de 2020 
  3. Alfredo Bosi. História concisa da literatura brasileira. Cultrix, 1994, pp. 400–401 ISBN 978-85-316-0189-7
  4. Cleusa R. Pinheiro; Yudith Rosenbaum, Escritas do Desejo – Crítica Literária e Psicanálise. Ateliê Editorial, 2012, pp 108–109 ISBN 978-85-7480-618-1
  5. Antonio Candido, Os bichos do subterrâneos. , in Tese e Antítese: Ensaios. 2ª ed. rev. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1971.
  6. J. C. Garbugio et at, Graciliano Ramos, Editora Ática, 1987, p. 17
  7. Graciliano Ramos em carta a Antonio Candido, 20 de junho de 1945

Ligações externas[editar | editar código-fonte]