Ambundos – Wikipédia, a enciclopédia livre

Ambundos
População total
Regiões com população significativa
Angola
Línguas
Religiões

Ambundos[1] (Ambundu) são um grupo étnico banto que vive em Angola, na região que se estende da capital Luanda para Leste. A sua língua é o quimbundo.[nota 1] Os ambundos são o segundo maior grupo étnico angolano, representado cerca da quarta parte da população do país. Os seus subgrupos mais importantes são os luandas, os ambundos em sentido restrito, os quissamas, os hungos, os libolos, os quibalas, os angolas, os imbangalas, os songos, os chinjee e os minungos.[2]

História[editar | editar código-fonte]

Os ambundos, cuja língua é o quimbundo, habitavam na faixa de terra entre dois importantes rios da região: o Cuanza, Bengo e a Baixa de Cassange. Formaram dois importantes reinos pré-colonial Africano,sendo eles o Reino do Dongo e Reino da Matamba.

Os ambundos são o povo dominante na região da capital angolana, mais precisamente nas províncias do Bengo, Cuanza Norte, Malange, Cuanza Sul e uma pequena parte do Uíge . Apesar de os portugueses terem travado relações comerciais com os congos logo após a sua chegada ao Reino do Congo, a partir da altura em que estabeleceram uma colónia permanente em Luanda na região do Reino do Dongo ano de 1576 como base para o comércio de escravos, houve revoltas constantes contra a ocupação dos portugueses na região, sendo a mais famosa a encabeçada pela rainha Ana de Sousa (Ginga Ambande).[nota 2]

Boa parte dos mais de 4 milhões de escravos traficados para o estrangeiro entre os séculos XVI e XIX (especialmente para o Brasil) eram ambundos, já que este foi o grupo étnico onde a secular presença portuguesa na "cabeça de ponte" de Luanda teve mais impacto.[3][nota 3]

O desenvolvimento da cidade de Luanda como capital e principal centro industrial levou a que muitos ambundos se deslocassem para a capital, terminando na construção de imensos musseques nos arredores da cidade e levando a que, por causa da pesada presença dos portugueses e do grande número de mestiços lusófonos, o português se sobrepusesse à língua nativa, levando a que, hoje, muitos ambundos só saibam falar o português.[3]

Foi no tecido social constituído pela sociedade luandense e os ambundos que começou a desenvolver-se, no século XX, uma identidade social "nacional", isto é, um sentido de pertença a Angola no seu conjunto. Gerou-se, em consequência disto, uma oposição à ocupação colonial que, desde o início, teve uma perspectiva "nacionalista". Fundaram-se, neste âmbito,[4] nos anos 1950, vários grupos de resistência anticolonial, dos quais o mais importante, que absorveu ou eclipsou os outros, viria a ser o Movimento Popular de Libertação de Angola. Embora este tivesse pouca margem para marcar uma presença no complexo ambundo-luanda, durante a Guerra de Libertação (1961-1974), foi este que constituiu a sua principal base social no conflito que eclodiu em torno da descolonização do país, sendo uma das condições que lhe garantiram a vitória. O mesmo sucedeu durante o período da Guerra Civil Angolana, de 1975 a 2002. Como revelaram as eleições realizadas em 2008, esta ligação continua a ser expressiva no período pós-colonial, marcado pelo domínio político do MPLA.

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Notas

  1. Por desconhecimento, confundiu-se no tempo colonial a designação da língua com a designação da etnia, passando a chamar incorretamente a etnia de "quimbundos". Este hábito, nunca aceite pelos conhecedores, teve uma certa continuação no período pós-colonial.
  2. A melhor fonte a este respeito é Joseph Miller, Poder político e parentesco: Os antigos Estados Mbundu em Angola, Luanda: Arquivo Histórico Nacional de Angola, 1996. Traduzido do inglês pela historiadora angolana Maria da Conceição Neto.
  3. Sobre o tráfego de escravos a partir de Angola, a referência básica é a obra monumental de Josph Miller, Way of Death: Merchant Capitalism and the Angolan Slave Trade, 1730 - 1830, Londres & Madison/Wisconsin: James Currey & University of Wisconsin Press, 1996. NB: Muitos escravos provinham do Leste de Angola de hoje e foram "comercializados" pelos ambundos

Referências

  1. «Ambundos». Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Consultado em 28 de julho de 2012 
  2. José Redinha, Etnias e culturas de Angola, Luanda: Instituto de Investigação Científica de Angola, 1975
  3. a b Filipe Zau (5 de janeiro de 2010). «A génese do Reino do Ndongo». Jornal de Angola. Consultado em 8 de maio de 2010 [ligação inativa]
  4. John Marcum, The Angolan Revolution, vol. I, Anatomy of an Explosion, Cambridge/Mass. & Londres, 1968, distingue três correntes anticoloniais em Angola: os luandas/ambundos, os congos e ovimbundos/chócues

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • CAVAZZI DE MONTECUCCOLO, Pe. João António (1622-1692). Descrição histórica dos três reinos do Congo, Matamba e Angola (2 vols.). Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar, 1965. .
  • DIAS, Gastão Sousa. Heroismo e lealdade: quadros e figuras da Restauração em Angola. Lisboa: Agência Geral das Colónias, 1943. 95 p.
  • GONÇALVES, Domingos. Notícia Memorável da vida e acçoens da Rainha Ginga Amena, natural do Reyno de Angola. Lisboa: Oficina de Domingos Gonçalves, 1749.
  • MELLO, António Brandão de. Breve história da rainha Zinga Mbandi, D. Ana de Sousa. in: Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, série 63, nº 3 e 4 (1945), p. 134-146.
  • MILLER, Joseph C., Kings and kinsmen: early Mbundu states in Angola, Oxford, England: Clarendon Press, 1976
  • PARREIRA, Adriano. Economia e sociedade em Angola na época da rainha Jinga: século XVII. Lisboa: Editorial Estampa, 1997. 247 p. ISBN 972-33-1260-3
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