Alto-saxão – Wikipédia, a enciclopédia livre

O alto-saxão (em alemão: Obersächsisch) faz parte do grupo dos dialetos do médio-alemão falados na Saxônia e partes da Saxônia-Anhalt e Turíngia.

Embora sendo saxão, não pode ser confundido com o baixo-saxão que pertence a outro grupo linguístico, que é do baixo-alemão.

Mitteldeutsche Mundarten

História[editar | editar código-fonte]

O alto-saxão ou saxônio é a língua nativa de Martinho Lutero, que traduziu a Bíblia, em 1534, dando início a uma revolução cultural e religiosa, não só no norte da Alemanha, como mais tarde em outras partes do continente Europeu.

A enorme influência da tradução da Bíblia por Lutero sobre a língua alemã escrita baseia-se, por um lado, no fato de que o dialeto de sua terra natal ocupava, linguística e geograficamente, uma posição intermediária entre os dialetos do norte e do sula da Alemanha. Por outro lado, a familiaridade de Lutero com o uso da linguagem da chancelaria saxônica (Meißner Kanzleideutsch) foi outro fator que contribuiu para a unificação da língua alemã escrita. [1]

Na Idade Média, a Saxônia, situada no leste da atual Alemanha, era uma região em ascensão e atraía migrantes de todos os cantos do território de língua alemã, que traziam seus falares próprios. Desse caldo de cultura, resultou uma espécie de língua franca, o chamado Meißner Kanzleideutsch ou "alemão de chancelaria de Meissen" (cidade próxima a Dresden, capital da Saxônia), utilizado no comércio e na diplomacia. E dado que as rotas comerciais da Europa se cruzavam na Saxônia, esse dialeto local era entendido em quase todo o Sacro Império Romano-Germânico.

Assim, quando Lutero traduziu a Bíblia, de certa forma elevou um dialeto saxônio a língua padrão. O dialeto prussiano também se apropriou do vocabulário e da gramática do saxônio - embora mantendo diferenças de pronúncia. Mas, em 1763, ao ser derrotada pela Prússia na Guerra dos Sete Anos, a Saxônia perde sua hegemonia cultural, e o prussiano se torna a língua padrão. Mais que desprestigiado, o saxônio passaria a ser ridicularizado. "A língua dessas pessoas ofende meus ouvidos!", escreveia o dramaturgo Franz Grillparzer, no século XIX, a propósito do saxônio. Isto porque, entre outros motivos, os saxônios tendem a encurtar e abreviar as palavras e não diferenciam a pronúncia de ch e sch. [2]

De todo modo, pode-se dizer que o Meißner Kanzleideutsch, o dialeto da chancelaria de Meissen, está para a língua alemã padrão, assim como o dialeto toscano está para a moderna língua italiana, sendo que ambas as línguas foram sistematizadas com base em uma grande obra literária.[3][4][5]    

Referências

  1. "Ich habe keine gewisse, sonderliche, eigene Sprache im deutschen, sondern brauche der gemeinen deutschen Sprache, dass mich beide, Ober- und Niederländer, verstehen mögen. Ich rede nach der sächsischen Kanzlei, welcher nachfolgen alle Fürsten und Könige in Deutschland. […] Darum ist sie auch die gemeinste deutsche Sprache. Kaiser Maximilian und Kurfürst Friedrich, Herzog von Sachsen, haben im ganzen römischen Reiche die deutschen Sprachen also in eine gewisse Sprache gezogen.“ (Tischreden. Weimarer Ausgabe, Kap. 70 :"Von Sprachen"), apud Elaine C.; Johnson, Carroll B. The Habsburg Chancery Language in Perspective, Volume 114, p. 54. University of California Press, 1985.
    Tradução: "Não tenho uma linguagem específica e certa em alemão, mas preciso de uma língua alemã comum para que tanto a classe alta como a classe baixa possam me entender. Falo conforme a língua da chancelaria saxônica, que é seguida por todos os príncipes e reis da Alemanha. [...] É por isso que é também a língua alemã mais comum. O Imperador Maximiliano e o Eleitor Frederick, Duque da Saxônia, atraíram assim os idiomas alemães para uma determinada língua, em todo o Império Romano";
  2. Dialeto saxônio: a língua de Lutero. Deutsche Welle, 5 de agosto de 2016
  3. «Der Obersächsische Dialekt : Carl Gottlob Franke : Free Download & Streaming». Internet Archive. Consultado em 23 de dezembro de 2015 
  4. Barden, Birgit; Großkopf, Beate (1998). Sprachliche Akkommodation und soziale Integration: Sächsische Übersiedler und Übersiedlerinnen im rhein-/moselfränkischen und alemannischen Sprachraum. [S.l.]: Walter de Gruyter. ISBN 9783110935073 
  5. Barsa, ed. (2002). Nova Enciclopédia Barsa 6 ed. ISBN 85-7518-003-7