Alfredo Bensaúde – Wikipédia, a enciclopédia livre

Alfredo Bensaúde
Alfredo Bensaúde
Nascimento 4 de março de 1856
Ponta Delgada
Morte 1 de janeiro de 1941 (84 anos)
Ponta Delgada
Residência Portugal Portugal
Nacionalidade Portugal Portuguesa
Cônjuge Jeanne Eleonore Oulman Bensaude (2 filhos)
Religião judaica
Instituições Instituto Superior Técnico
Campo(s) Geologia
Busto de Alfredo Bensaúde, esculpido por António Duarte, localizado no átrio do Pavilhão Central do Instituto Superior Técnico

Alfredo Bensaúde[1] GOSEGOIP (Ponta Delgada, 4 de Março de 1856 — Ponta Delgada, 1 de Janeiro de 1941) foi um mineralogista, engenheiro e professor universitário de ciências geológicas, reformador do ensino tecnológico em Portugal no início do século XX.[2] Foi o fundador e primeiro director do Instituto Superior Técnico (IST) em Lisboa.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nasceu em Ponta Delgada, primeiro filho de José Bensaude (1835-1922), importante e culto industrial açoriano de origem judaica e de Raquel Bensliman (1836-1934). Foi irmão de Joaquim Bensaude (1859-1952), destacado historiador dos Descobrimentos Portugueses e de Raul Bensaude, famoso médico em Paris.

Depois de fazer os seus estudos preparatórios em Ponta Delgada, aos 15 anos de idade foi enviado pelo pai para a Alemanha, a fim de se educar nesse país e onde prosseguiu os estudos. Começou por frequentar as classes preparatórias da Escola Técnica Superior de Hanôver, em Hanôver,[3] passando, depois, para o curso de Engenharia na Escola de Minas de Clausthal, em Clausthal, hoje Clausthal-Zellerfeld,[4] obtendo o grau de Engenheiro de Minas em 1878.

Permaneceu na Alemanha, prosseguindo e terminando os seus estudos na Georg-August-Universität Göttingen, em Göttingen,[5] onde, em 1881,[2] obteve o grau de Doutor em Filosofia na especialidade de Mineralogia. No ano seguinte, em 1882, premiou a mesma Universidade uma memória sua.[2] A sua dissertação versa a cristalografia do mineral perovskite, então descoberto na Rússia e foi premiada e publicada pelo Governo Alemão.[6]

A partir de 1884 fixou-se em Lisboa, sendo nomeado Professor de Mineralogia e Geologia no Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, função que exerceu seguidamente.[2] Imbuído dos métodos práticos com que estudara na Alemanha, introduziu os métodos laboratoriais de ensino, revolucionando a forma de ensino das disciplinas que regia. Foi o introdutor em Portugal do ensino da Cristalografia e das modernas técnicas de Petrografia.

Após a Implantação da República Portuguesa, em 1910, foi convidado e confiou-lhe o Dr. Manuel de Brito Camacho, Ministro do Fomento do Governo Provisório, o encargo de instalar, dirigir e reformar o Instituto Superior Técnico, de que foi Professor e o primeiro Director, empreendimento que levou a cabo de maneira muito notável, tendo a oportunidade de renovar também nestas funções os métodos de ensino da Engenharia em Portugal e o pessoal docente.[2] Dirigiu a instituição desde a sua fundação em 1911 até 1922, ano em que se retirou para Ponta Delgada, onde, aquando e devido ao falecimento de seu pai, lhe coube a missão de lhe suceder e de assumir a administração da empresa industrial que este havia fundado na ilha de São Miguel.[2]

Residindo em Ponta Delgada, mas de onde se ausentava com frequência em visitas ao estrangeiro, manteve a sua actividade intelectual, colaborando com diversas instituições locais e dedicando-se ao estudo da mineralogia açoriana. Neste período descreveu a açorite, um mineral aparentado com o zircónio comum nas rochas vulcânicas.

Alfredo Bensaude foi admitido como Sócio Correspondente da Academia das Ciências de Lisboa em 1893 e como sócio efectivo em 1911. Em 1929 foi declarado Académico Emérito.

Publicou múltiplos artigos sobre assuntos da sua especialidade e trabalhos sobre reforma pedagógica do ensino das ciências naturais e da engenharia. Algumas das suas obras são marcos importantes no património pedagógico de Portugal, entre elas as Notas Histórico-Pedagógicas sobre o Instituto Superior Técnico (1922), onde criticou inúmeras deficiências do ensino técnico em sobre os cursos de engenharia, propondo uma reestruturação pedagógica profunda, com destaque para o aumento do número de laboratórios. Tentou provar que a associação da teoria a prática era importante até mesmo aos cursos de Arquitectura. Foi o responsável pelo surgimento das primeiras disciplinas que envolviam técnicas de desenho.

Entre os seus trabalhos, contam-se, além da Tese de Doutoramento e memória laureada pela Universidade,Relatórios sôbre vários jazigos minerais de Portugal, notícias várias sobre mineralogia, publicadas em revistas Alemãs, Francesas e Portuguesas, uma monografia sobre o diamante na revista portuense da Sociedade Carlos Ribeiro, precursora da "Portugália", de Ricardo Severo, um estudo sobre o Ensino Tecnológico, de 1892, cujas ideias pôs em prática quando tomou a Direcção do Instituto Superior Técnico: Études sur le séisme du Ribatejo du 23 Avril 1909, em colaboração com Paulo Choffat e impresso pela Comissão dos Trabalhos Geológicos de Portugal.[7]

Paralelamente à sua actividade científica e empresarial, teve como hobby a construção e restauro de violinos. A paixão pelos violinos terá surgido quando assistiu em Hanôver à repetição das experiências de acústica do médico e físico francês Félix Savart (1791-1841). Construiu o seu primeiro violino em 1874, ano em que frequentou a oficina, em Hanover, do construtor de violinos dinamarquês Jacob Eritzoe, que fora durante muitos anos contramestre da oficina de August Riechers, em Berlin. Chegou a interromper os estudos no ano lectivo de 1874/1875 para aprender a arte de construir violinos. Os seus instrumentos eram simétricos na curvatura dos tampos e no contorno da costilha, diferente dos tradicionais, aos quais aplicava verniz de composição sua, com elasticidade, transparência e brilho característicos. Entre os seus trabalhos nesta área, contam-se: Uma concepção evolucionista da música e As canções de F. Schubert, ambas de 1905.[8]

Escreveu, ainda, a biografia de seu pai, Vida de José Bensaude, de 1936.[8]

A 6 de Novembro de 1929 foi feito Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e a 14 de Novembro de 1936 foi feito Grande-Oficial da Ordem da Instrução Pública.[9]

Em sua homenagem, foi criado o Museu Alfredo Bensaúde no departamento de Engenharia Civil, Arquitetura e Georrecursos do Instituto Superior Técnico e foi dado o seu nome à Avenida Doutor Alfredo Bensaude, em Santa Maria dos Olivais, Lisboa.

Casou com Jane Oulman Bensaude (1862-1938), autora de livros didácticos e infantis. Foi pai da bióloga Matilde Bensaude (1890-1969).

Principais obras publicadas[editar | editar código-fonte]

  • 1881 — Über den Analcim. Inaugural-Dissertation zur Erlangung der Philosophischen Doktorwürde an der Georg-August-Universität zu Göttingen, Stuttgart.
  • 1881 — "Beiträge Zur Kenntniss der Optischen Eigenschaften des Analcim". Nachrichten von der Königlichen Gesellschaft der Wissenschaften und der Georg-August-Universität zu Göttingen.
  • 1882 — Über den Perowskit. Von der Philosophischen Fakultät der Universität Göttingen gekrönte Preisschrift. Göttingen (gedruckt mit Unterstützung des Königlichen Preussischen Kulturministeriums).
  • 1884 — Da Incongruência entre a Observação e a Teoria em alguns Cristais Cúbicos. Tese de concurso para lugar de professor de mineralogia e geologia do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa.
  • 1884 — Note sur la nature minéralogique de quelques instruments de pierre trouvés en Portugal. Congrès International d'Anthropologie et d'Archéologie, Lisbonne, 1880. Lisboa, Academia Real das Ciências: 682-697.
  • 1888 — "Note sur l’azorite de S. Miguel (Iles Açores)". Bulletin de la Société Francaise de Minéralogie, Paris.
  • 1892 — "O Diamante". Revista de Sciencias Naturaes e Sociaes, 2, 8, Porto.
  • 1892 — Projecto de reforma do ensino technologico para o Instituto Industrial e Commercial de Lisboa: parecer separado. Lisboa: Typ. da Academia Real das Sciencias.
  • 1893 — "Anomalias Opticas de Crystaes Tesseraes". Jornal de Sciencias Mathematicas, Physicas e Naturaes, 35-37, Lisboa.
  • 1894 — Beiträge zu einer Theorie der optischen Anomalien der regulären Kristalle. Lisboa.
  • 1895 — "Alguns Topicos de uma Theoria das Anomalias Opticas dos Crystaes". Revista de Sciencias Naturaes e Sociaes, 4, 14, Porto.
  • 1895 — "Note sur la corrosion d'un alum biréfringent". Communications de la Commission des Travaux Géologiques du Portugal, 3, 1, Lisboa.
  • 1896 — Die wahrscheinlichen Ursachen der anomalen Doppelbrechung der Kristalle. Lisboa.
  • 1905 — Uma concepção evolucionista da música: As canções de F. Schubert. Lisboa, Liv. Clássica.
  • 1909 — "Le tremblement de Terre de la Vallée du Tage du 23 Avril 1909 (Note Prèliminaire)". Bulletin de la Société Portuguaise de Sciences Naturelles, 3: 90-129.
  • 1911 — Études sur le Seisme du Ribatejo du 23 Avril 1909. Lisboa (em colaboração com Paul Choffat).
  • 1920 — "Note sur la descloizite de la mine de Preguiça (Sobral de Adiça)". Bulletin de la Société Portugaise des Sciences Naturelles, VIII, 2: 154-156.
  • 1921 — "Quartz noir recouvert d’autumite de la mine d’urane de Viaris (Baião)". Bulletin de la Société Portugaise des Sciences Naturelles, IX, 1: 40-44 (em colaboração com G. Costanzo).
  • 1922 — "Le Quartz Noir de la Mine Radifère de Viaris (Portugal)". Le Journal de Physique et de Radium, (6 — 3), Paris (em colaboração com G. Costanzo).
  • 1922— Notas histórico-pedagógicas sobre o Instituto Superior Técnico. Lisboa: Imprensa Nacional.
  • 1936 — Vida de José Bensaude. Porto, Litografia Nacional.
  • 1938 — "Sobre a açorite, variedade do zircão". Açoreana, 2, 1: 15-19.
  • 1939 — "Rochas Silicatadas por Águas Minerais e Opala Comum na Ilha de S. Miguel". Açoreana, 2, 2: 67-78.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Amzalak, Moses Bensabat, Alfredo Bensaude. Lisboa, 1949.
  • Carvalho, Herculano de, "Dr. Alfredo Bensaude". Técnica. 116 (Jan.1941) 121-122 e 118 (Março de 1941) 223-225.
  • Sequeira, Adrião, "Alfredo Bensaude e a sua obra: o IST", Técnica. 177(Nov.1947)551-562.
  • Ferreira, Ernesto, "Doutor Alfredo Bensaude, o professor e o mineralogista". Açoreana (1941), 2, 4: 175-182.
  • -----, Os Açores, Revista Ilustrada, "O Dr. Alfredo Bensaude construtor de violinos". Ponta Delgada, (2), 7: 18,19 e 33.

Referências

  1. «Alfredo Bensaúde». Infopédia. Consultado em 18 de outubro de 2011 
  2. a b c d e f Vários. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. [S.l.]: Editorial Enciclopédia, L.da. pp. Volume 4. 535 
  3. Em alemão: Königliche Technische Hochschule Hannover, antecessora da actual. «Leibniz Universität Hannover» (em alemão). Uni-hannover.de 
  4. Berg-und Hüttenschule Clausthal-Zellerfeld, uma escola fundada 1775 e transformada em. «Technische Universität Clausthal». Em 1968 (em alemão). Tu-clausthal.de 
  5. Veja a página oficial da. «Georg-August-Universität Göttingen» (em alemão). Uni-goettingen.de 
  6. Über den Perowskit. Von der Philosophischen Fakultät der Universität Göttingen gekrönte Preisschrift. Göttingen, 1882 (gedruckt mit Unterstützung des Königlichen Preussischen Kulturministeriums).
  7. Vários. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. [S.l.]: Editorial Enciclopédia, L.da. pp. Volume 4. 535-6 
  8. a b Vários. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. [S.l.]: Editorial Enciclopédia, L.da. pp. Volume 4. 536 
  9. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Alfredo Bensaude". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 24 de junho de 2014 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]