Adhemar Ferreira da Silva – Wikipédia, a enciclopédia livre

Adhemar Ferreira da Silva
bicampeão olímpico
Adhemar Ferreira da Silva
Em 1956
atletismo
Nome completo Adhemar Ferreira da Silva
Modalidade salto triplo
Nascimento 29 de setembro de 1927
São Paulo, SP
Nacionalidade brasileiro
Morte 12 de janeiro de 2001 (73 anos)
São Paulo, SP

Adhemar Ferreira da Silva (São Paulo, 29 de setembro de 1927 – São Paulo, 12 de janeiro de 2001) foi um atleta brasileiro, primeiro bicampeão olímpico do país, primeiro atleta sul-americano bicampeão olímpico em eventos individuais, recordista mundial do salto triplo cinco vezes e primeiro atleta a quebrar a barreira dos 16m no salto triplo.[1]

Conquistou medalhas de ouro no salto triplo na Olimpíada de Helsinque em 1952 - superando o recorde mundial - e na Olimpíada de Melbourne em 1956. Foi também tricampeão em Jogos Pan-Americanos: Buenos Aires em 1951, Cidade do México em 1955 - superando pela segunda vez o recorde mundial - e Chicago em 1959.

Em 2012, foi imortalizado no Hall da Fama do Atletismo. Ele é o único brasileiro a representar o país no salão da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), criado como parte das celebrações pelo centenário da instituição.[2]

Carreira[editar | editar código-fonte]

Adhemar começou a competir em 1947. Nesse ano, conversando com José Márcio Cato, da equipe de atletismo do São Paulo, ele gostou da sonoridade da palavra atleta e resolveu começar a praticar o esporte defendendo a camisa do São Paulo Futebol Clube.

Aos dezoito anos, após receber algumas instruções básicas, saltou 12,9m, impressionando o técnico do São Paulo, Dietrich Gerner.[1] Sua primeira competição foi no Troféu Brasil em 1947, obtendo a marca de 13,05 metros. Em dezembro de 1950, saltou 16m e igualou o recorde mundial do japonês Naoto Tajima, em vigor desde 1936. Em 30 de setembro de 1951, marcou 16,01 m no Rio de Janeiro, tornando-se recordista absoluto e primeiro atleta na modalidade a passar dos 16 m.[1] É pentacampeão sul-americano e tricampeão pan-americano (1951, 1955 e 1959). Venceu o campeonato luso-brasileiro, em Lisboa em 1960. Foi dez vezes campeão brasileiro, tendo mais de quarenta títulos e troféus internacionais e nacionais.[3] Possuía um estilo elegante e altivo ao saltar, tendo como marca principal o equilíbrio.[1]

No ano de 1955, o esportista chegou ao Vasco para brilhar no atletismo do clube. Depois de sagrar-se campeão olímpico em 1952, bicampeão pan-americano e recordista mundial de salto triplo. Além de treinar na pista de atletismo que circundava o campo, Adhemar também estudava na Escola de Educação Física do Exército e trabalhava no jornal Última Hora. A lista de títulos enquanto era atleta do Vasco é extensa: cinco títulos estaduais; dois do Troféu Brasil, a medalha de ouro na Olimpíada Melbourne-1956 (sua segunda seguida, tornando-se o primeiro e até hoje único atleta brasileiro bicampeão olímpico de fato) e a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos Chicago-1959 (sua terceira consecutiva, tornando-se tricampeão pan-americano). Encerrou sua carreira no Vasco, em 1960, logo após as Olimpíadas que aconteceram em Roma.

Jogos Olímpicos[editar | editar código-fonte]

Retrato sob a guarda do Arquivo Nacional (Brasil).

Adhemar não conseguiu um bom resultado nos Jogos de Londres, ficando apenas em 11º lugar.[1] Mas na Olimpíada de Helsinque, na Finlândia, em 1952, quando o atleta entrou na pista para disputar o salto triplo, não imaginava bater o recorde mundial que na época era de 16 metros, muito menos repetir o feito por quatro vezes na mesma tarde. Saltou 16,05 m, 16,09 m, 16,12 m e 16,22 m. Para agradecer os aplausos, correu os 400m da pista atlética, criando a "volta olímpica".[1] Antes da prova, ele pediu à cozinheira finlandesa, que conhecera, um prato especial para sua volta: bife com salada. Ao voltar, Adhemar encontrou o prato e um bolo com a inscrição "16,22".

Adhemar Ferreira da Silva na capa da revista argentina El Gráfico do 5 de setembro de 1952.

Em Melbourne, 1956, dois dias antes da prova uma intensa dor de dente ameaçou o desempenho do atleta brasileiro, mas uma providencial ida ao dentista para uma punção resolveu o problema. Depois de um duelo com o islandês Vilhjálmur Einarsson, Adhemar consagrou-se campeão, tornando-se o até então único bicampeão brasileiro olímpico, com a marca de 16,35 metros. Ele só seria igualado 48 anos depois pelos iatistas Robert Scheidt, Torben Grael, Marcelo Ferreira e pelos jogadores de voleibol Giovanni e Maurício, todos bicampeões olímpicos em Atenas 2004. Pela vitória na Austrália, Adhemar recebeu o apelido de Canguru Brasileiro.[1]

Por problemas pulmonares não diagnosticados pelos médicos, ele nem passou das eliminatórias em Roma, nos Jogos Olímpicos de Verão de 1960, com um salto de 15,07 m. Aos 33 anos, Adhemar já sofria de tuberculose.[1] Desde os 16 anos, e mesmo durante seus dias de glória, Adhemar fumava um maço de cigarros por dia.[3]

Em 1993, recebeu o título de Herói de Helsinque, junto com Emil Zatopek e em 2000 foi agraciado pelo COB com o Mérito Olímpico.[3]

Carreira de Ator[editar | editar código-fonte]

Em 1956, foi ator na peça Orfeu da Conceição, de Vinicius de Moraes e no filme franco-italiano Orfeu Negro, de 1959, feito a partir do texto teatral, que venceu o Oscar de melhor filme estrangeiro[3] e a Palma de Ouro no Festival de Cannes.

Foi revelado que ele recebeu a oferta do filme enquanto estudava educação física. Ele foi preferido para o papel de ator devido ao seu corpo atlético e não atuou em nenhum outro filme, pois não tinha muito interesse em fazer filmes que acabaram encerrando sua carreira de ator. A antropóloga americana Ann Dunham, que também é mãe do ex-presidente americano Barack Obama, afirma que Orfeu Negro era seu filme favorito.[4]

Por conta desse filme, Adhemar ainda é reconhecido como um dos poucos medalhistas de ouro olímpicos que desempenhou um papel importante no cinema.

Pessoal[editar | editar código-fonte]

Poliglota,[1] Adhemar também estudou escultura na Escola Técnica Federal de São Paulo (1948), Educação Física na Escola do Exército, Direito na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil (1968) e Relações Públicas na Faculdade de Comunicação Social Cásper Libero (1990).[3] Foi adido cultural na embaixada brasileira em Lagos, Nigéria, entre 1964 e 1967.

Homenagem a Adhemar Ferreira da Silva em memorial localizado no estádio Morumbi.

No escudo do São Paulo Futebol Clube as duas estrelas douradas que estão na parte de cima foram adotadas em sua homenagem.[5] Elas se referem aos recordes mundiais batidos por ele em Helsinque 1952 e nos Jogos Pan americanos da Cidade do México em 1955, quando conseguiu a melhor marca de sua vida, 16,56m, quebrando pela quinta vez o recorde mundial.[1][3] Adhemar se transferiu para o carioca Club de Regatas Vasco da Gama em 1955, conquistou o bicampeonato olímpico quando era atleta do clube carioca e por ele encerrou sua carreira em 1960. Vencedor até a sua última prova, encerrou sua última competição oficial como campeão carioca no salto triplo com a marca de 15,58 m, disputada no Estádio Célio de Barros em 1 de outubro de 1960.

Foi comentarista esportivo e colunista do jornal carioca Última Hora.[1]

Morreu no Hospital Santa Isabel, em São Paulo, em 12 de janeiro de 2001, aos 73 anos.[1][6]

Legado[editar | editar código-fonte]

Os saltos de Adhemar inauguraram a mitológica tradição brasileira nas provas de salto triplo. Depois dele, surgiram Nelson Prudêncio, prata na Cidade do México 1968 e bronze em Munique 1972, João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, bronze em Montreal 1976 e Moscou 1980 e ex-recordista mundial, e Jadel Gregório, atual recordista brasileiro e sul-americano, com 17,90m.[7]

Entrevistas[editar | editar código-fonte]

Em 1993, Adhemar forneceu uma entrevista ao Museu da Pessoa [8], abordando a complexidade de uma infância marcada por adversidades, evidenciando a necessidade de amadurecimento precoce para enfrentar os desafios que se apresentaram desde muito novo.

"Bem, como eu disse, meus pais eram trabalhadores e nós morávamos no porão de uma casa, no centro da Casa Verde, eles saíam para trabalhar e eu ficava cuidando da casa. Como filho único que fui, então cabia a mim cuidar da casa. E cuidar da casa significava lavar, passar, cozinhar, inclusive para o meu pai, que ia almoçar em casa. E aí eu acho que cabe uma historiazinha para dizer bem como eu era no tempo de criança. Eu via, eu tinha sete para oito anos, os outros garotos, nas ruas, brincando, e eu tinha essa vontade de brincar também. Só que as minhas obrigações de casa não me permitiam fazer isso. "
— Adhemar Ferreira da Silva

 Em entrevista ao Museu da Pessoa

Ver também[editar | editar código-fonte]

Wikiquote
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Referências

  1. a b c d e f g h i j k l Catálogo Esporte Movimento. [S.l.]: Caixa Cultural. 2014 
  2. Adhemar entra no recém criado Hall da Fama do Atletismo
  3. a b c d e f «Adhemar Ferreira da Silva». BrasilEscola. Consultado em 6 de julho de 2012 
  4. «Why Obama is wrong about Black Orpheus». the Guardian (em inglês). 2 de fevereiro de 2009. Consultado em 27 de abril de 2022 
  5. «Qual o significado das estrelas nos uniformes dos times brasileiros?». MundoEstranho/Ed. Abril. Consultado em 6 de julho de 2012 
  6. «Morre o maior atleta da história olímpica nacional». Folha UOL. 13 de janeiro de 2001 
  7. «Jadel Gregório». Atletx.com. Consultado em 6 de julho de 2012 
  8. «Atleta de palavra». Museu da Pessoa. 27 de novembro de 1993 e 08 de dezembro de 1993. Consultado em 21 de novembro de 2023 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]