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Academia Real de Marinha
ARM
Fundação 5 de agosto de 1779
Tipo de instituição Escola de ensino superior náutico e matemático
Localização Lisboa
Funcionários técnico-administrativos 3
Docentes 6
Campus Noviciado da Cotovia
 Nota: Se procura a academia quase homónima criada no Porto, veja Academia Real de Marinha e Comércio.

A Academia Real de Marinha foi uma instituição de ensino superior portuguesa criada em Lisboa, por Lei de 5 de agosto de 1779, pela Rainha D. Maria I e na dependência da Secretaria de Estado da Marinha. Direcionada para o ensino das ciências exatas e para o aperfeiçoamento da arte da navegação, ministrava um curso de matemática, destinado à formação dos oficiais e pilotos da Marinha Real e da marinha mercante, bem como à preparação científica para o acesso ao curso de engenharia militar.

Nos Estatutos da Academia Real da Marinha, publicados em anexo à lei supracitada, encontrava-se designada a sua composição: três lentes e três substitutos, um guarda-livros, um secretário e um guarda dos instrumentos astronómicos e marítimos. Para a inspeção da atividade da Academia foi criado o cargo de inspetor-geral da Marinha.

Foi uma das instituições que esteve na génese da Universidade de Lisboa e, mais concretamente, da sua Faculdade de Ciências.

História[editar | editar código-fonte]

Sede da Academia Real da Marinha no antigo Noviciado da Cotovia, onde também funcionava o Real Colégio dos Nobres.

A fundação da Academia Real de Marinha - e, mais tarde, da Academia Real dos Guarda-Marinhas - foi impulsionada por Martinho de Melo, que com o Marquês de Pombal colaborara e com ele aprendera. Foram integrados nesta nova instituição alguns cargos e instituições de ensino especializadas então existentes, entre os quais o cargo de cosmógrafo-mor (que tinha a obrigação de dar uma lição diária de Matemática) e a Aula de Debuxo Naval.

Os seus professores e alunos tinham privilégios e prerrogativas iguais aos da Faculdade de Matemática da Universidade de Coimbra.

A construção do Real Observatório Astronómico da Marinha - prevista nos Estatutos da Academia - iniciou-se em 1824 no ângulo leste do edifício do Colégio dos Nobres. Passou para a posse da Escola Politécnica de Lisboa em 1837 e foi consumido por um incêndio que ocorreu no edifício da referida escola em 1843. Acabou por ser extinto por Carta de Lei de 15 de Abril de 1874.

A Academia Real de Marinha manteve-se em funcionamento até 1837. Nesse ano, foi suprimida pelo decreto de 11 de janeiro do referido ano, emitido em conjunto pelos ministérios da Guerra e da Marinha, juntamente com o então extinto Real Colégio dos Nobres, dando origem à Escola Politécnica de Lisboa, a qual viria a tornar-se na atual Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Houve tentativas de restabelecer a Academia de Marinha[1] mas não foram bem sucedidas.

Ensino[editar | editar código-fonte]

Academia Real de Marinha preparava para a carreira náutica e ainda para diversas carreiras militares e civis. Nela ensinavam-se, em curso de três anos, as matemáticas puras e aplicadas e a arte de navegar.

Era condição de admissão ao candidatos terem a idade mínima de 14 anos, fazerem uma petição e serem submetidos a uma prova de Aritmética. Os alunos eram avaliados em exercícios semanais e no fim do ano letivo.

Segundo Fernando Bragança Gil e Maria da Graça Salvado Canelhas, “A Academia Real da Marinha funcionou no edifício de 5 de Agosto de 1779 a 3 de Setembro de 1796”.[2] As fontes primárias informam-nos da permanência no local, pelo menos até 1822.

O seu curso de matemática incluía as cadeiras de aritmética, de álgebra e de navegação, realizadas respetivamente, no primeiro, segundo e terceiro anos. Na primeira era ensinada aritmética, geometria, trigonometria plana e os princípios elementares da álgebra. Na segunda era ensinada a continuação da álgebra, o cálculo diferencial, o cálculo integral, a estática, a dinâmica, a hidrostática, a hidráulica e a óptica. Na terceira, era ensinada a trigonometria esférica e a arte da navegação teórica e prática.

Para o acesso à carreira de oficial ou de piloto da Marinha Real era necessária a habilitação com a totalidade do curso matemático da Academia Real da Marinha. Já para o acesso à carreira de piloto da marinha mercante bastava a habilitação com as cadeiras de aritmética e de navegação.

Os candidatos a oficiais engenheiros tinham que habilitar-se com as cadeiras de aritmética e de álgebra da Academia Real da Marinha, prosseguindo depois os seus estudos de fortificação e engenharia numa escola especializada que, em 1790, passaria a ser a Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho.

Alguns cursos da Escola Politécnica de Lisboa que lhe sucedeu eram vocacionados para a Marinha, tais como o 3.º curso para oficiais de marinha ou o 4.º curso para engenheiros construtores navais. Existia também uma cadeira de navegação, que anteriormente pertencia ao terceiro ano do curso na Academia Real da Marinha e que continuaria a ser ministrada na Escola Politécnica de Lisboa até à instituição da Escola Naval, em 1845.

Referências

  1. Projeto de Lei 58-A, apresentado à Câmara Eletiva em 6 de Agosto de 1840, relativo à Proposta de revogação do Decreto que suprimira o Colégio dos Nobres e os de criação e dotação da Escola Politécnica
  2. FACULDADE DE CIÊNCIAS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA - passado-presente: perspectivas futuras. Coordenação Fernando Bragança Gil, Maria da Graça Salvado Canelhas. Lisboa: Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, 1987

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]